Entrevista
O belo exercício de um homem feliz
Tomando Ayahuasca e de bem com o mundo, seguidor da doutrina do mestre Irineu Serra completa hoje 90 anos de vida solar.
Filho do casal cearense, Maria Cota de Albuquerque e Francisco Davi de Albuquerque, o senhor Mário Rodrigues de Albuquerque, um amazonense que nasceu no dia 3 de abril de 1913, é um homem encontrado com a vida, e com a vida em estado de abundância. Seu Mário, completa hoje 90 anos de vida solar. Um exemplo de humildade e de sabedoria visível, que veio para as terras acreanas em abril de 1963 e nunca mais saiu destas brenhas fronteiriças cercadas por rios, barrancos, índios e frondosas árvores seringueiras e castanheiras. “Minha idade é uma coisa fantástica. Entendo que esta graça que Deus me deu é um verdadeiro milagre nestes conturbados tempos modernos”, diz o ancião, que, chegando a Rio Branco, passou a ter contato e a participar da doutrina espirita e humanística fundada no Acre pelo saudoso e lendário Raimundo Irineu Serra. “Mestre Irineu era um homem popular, gentil e humanitário. Eu cheguei doente no Acre, lhe procurei perguntando se ele sabia o que eu sentia, se ele conhecia e se podia curar a minha doença. Ele respondeu para mim que não sabia e nem podia curar minha doença porque quem curava era nosso senhor Jesus Cristo, e ele era apenas uma centelha, um agente na terra a serviço do criador”, lembra seu Mário, acrescentando que, depois dessa primeira conversa, Irineu Serra lhe chamou para tomar Daime com ele. Uma experiência de cura com o Daime Seu Mário Albuquerque comenta que, logo no primeiro dia que tomou a santa bebida, começou a se metamorfosear e, na ‘miração’ que teve, viu uma mesa cheia de médicos e enfermeiros que começaram a operar o seu estômago. “Fui operado no invisível com o mestre Irineu. Guiados por Jesus Cristo, eu vi nitidamente os espíritos curadores tirando pedras dos meus rins e do meu fígado. Antes deste contato, eu sentia muitas dores e não podia comer nada. Depois do trabalho espiritual, as dores desapareceram e nunca mais adoeci”, relata. Para ele que participa da doutrina há 40 anos, o Daime é uma santa bebida. Veículo concreto para que Jesus Cristo, o mestre dos mestres, possa curar as doenças que maltrata o desgarrado homem na terra. “Isso depende também do merecimento de cada um”, diz reafirmando que quem cura mesmo é Deus. “Hoje dou testemunho dessa doutrina porque, verdadeiramente, não sinto mais nenhum tipo de doença, mesmo tendo 90 anos”. “O mestre prometeu a Nossa Senhora que não cobraria nada de ninguém e, com a promessa de Irineu Serra, a mãe de Deus colocou todos as espécies de cura, todos os verdadeiros poderes, dentro dessa bebida. E, com os poderes de Jesus Cristo manifestados na bebida, Irineu começou a curar e a criar fama no Acre e em toda a Amazônia”, testemunha o sempre amigo e discípulo de Raimundo Irineu Serra. “Mestre Irineu procurava enaltecer as virtudes e não os pseudodefeitos” O ancião, no alto do seu conhecimento, define o mestre Irineu Serra como um combatente das contradições existentes nos homens, suas teorias e práticas, palavras e ações. “Mestre Irineu procurava enaltecer as virtudes e não os pseudodefeitos humanos. Ele não atirava pedras em ninguém. Era contra a comercialização dessa santa bebida e dizia para todos que quem quisesse tomá-la viesse beber na sua origem. Entendo que a verdadeira amizade é a da ausência física, porque, de perto, ninguém é normal”, ensina o aniversariante. Falando dos conflitos atuais que afligem a espécie humana, seu Mário Rodrigues conta que mestre Irineu Serra queria e trabalhava para a existência de paz e de tranqüilidade entre os homens. “Mestre Irineu não aceitava nenhum tipo de guerra. Ele era um cidadão de todas as raças, todos os povos, um homem simples e profundo que pertencia ao planeta terra. Ele morreu e ficou a desunião entre as pessoas, entre as famílias, entre as categorias sociais, entre os povos, isso é triste. Mas ainda é tempo do homem se redimir, se corrigir das suas contradições e dos seus pecados mundanos, infernos íntimos e conflitos sociais”, acredita o velho sábio. Para finalizar, seu Mário diz que a mentira, a ganância, o consumismo, a falta de amor ao próximo, o teatro malfeito, a prepotência, a inveja, a luxúria, a dissimulação, a farsa, entre outras doenças psíquicas, são males e pecados maiores que o vício do álcool ou de outras substâncias entorpecentes, que também afligem e consomem os homens tolos. O contraditório em alguns integrantes da doutrina daimista Seu Mário Rodrigues conta que um dos equívocos da doutrina do Daime é que alguns dos seus líderes atuais pensam e se sentem o próprio Irineu Serra (Juramidam, o nome do mestre) reencarnado. Ou mais ainda: pensam que são o próprio Jesus Cristo ou a virgem mãe Nossa Senhora. “Esses líderes de igrejas daimistas, ditos seguidores da doutrina iniciada por Irineu Serra deveriam dar bons exemplos e não agir de forma teatral, superficial, com farsas, dissimulações, mentiras e posturas diferentes. Com Irineu Serra aprendi a ser humilde, a respeitar a ausência do meu irmão, não falar mal da vida alheia, aprendi a ver virtudes nas pessoas”, ressaltou. Ele diz que hoje se encontra subindo os primeiros degraus da escada do conhecimento e que o Daime é um mistério. “Mesmo vivendo um século, a gente morre e não consegue decifrar todos as suas nuances. Mas acho que os hinos continuam ensinando. É só botá-los na prática, no nosso dia-a-dia, e podemos perder o mal costume”, ensina seu Mário Rodrigues, com um olhar voltado para toda a humanidade.
Fonte: 11/06/2008 |
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