Aprofundando
a questão com alguns dos mais experientes, pude saber
que mestre Irineu explicava que "tudo que fosse feito
na sede de serviços era feito 'no astral', para a eternidade";
portanto, ao reconhecer que nem sempre os casamentos perduravam
– e nisso não há obrigatoriamente erro,
se cumprir a destinação –, não
julgava acertado realizar a cerimônia no correr de um
serviço espiritual.
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***
Juramidam x Juramidã:
Segundo
dona Percília Matos, sua filha adotiva e zeladora de
seu hinário, Mestre Irineu escrevia, de próprio
punho, Juramidam com terminação
em "m".
Marcos Camargo - CRF - Centro da Rainha da Floresta / São
Paulo
***
O
poder do Céu:
Relatam
os daquela época que, em momentos assim, quando mestre
Irineu invocava o poder do céu – "a força,"
no dizer daimista – em um serviço espiritual,
"as árvores balançavam, os cachorros latiam,
as vacas corriam no pasto e a gente até deitava no
chão. Era todo mundo escorregando para o chão,
que ninguém conseguia ficar nem sentado! A força
passava rasinho, rasinho, rasinho assim, feito vento em lombo
de cobra. E era um tal de grito p'ra cá, choro p'ra
lá, 'Meu mestre, valei–me!', 'Meu mestre, me
ajude!', que eu nem sei como a gente agüentava!"
"Já
fazia um tempinho que eu tomava daime e, mesmo assim, vivia
duvidando… Aí, meu irmão, uma noite 'a
coisa pegou', a força foi chegando e eu fui vendo e
não tive outra saída senão correr para
a casa dele [nos últimos anos de vida no mundo, mestre
Irineu morava perto da sede de serviços e nem sempre
comparecia, em matéria, aos longos serviços
de bailado]. Cheguei, bati e ouvi dona Peregrina:
–
Quem é?
– Sou eu… O Mestre está?
– Volte outra hora, ela falou baixinho, o Mestre está
dormindo!
– Pipiu, mande o homem entrar…, ouvi a voz do
Mestre.
Ele a chamava de "Pipiu"… Ele abriu a porta,
fez sinal para eu entrar e eu me pus a rogar e pedir desculpas.
Enquanto me desbulhava em lamentos e gemidos, ele levantou,
abriu o janelão da frente da casa, apoiou aqueles dois
braços imensos no beiral, me olhou e me chamou:
– Venha cá, meu filho.
Engolindo o que dava para engolir, eu me levantei como deu
e fui até lá. Quando eu parei ao lado dele,
as suas mãos se iluminaram e uma bola de luz nasceu
nelas.
– Olhe bem de pertinho…
– Eu…, Mestre?
– Olhe, homem. Ou tu estás com medo ainda, eu
aqui do teu lado?
Olhei de perto e vi a sede dos serviços. A mesma sede
onde eu estava bailando fazia pouquinho! Lá estavam
todos, eu via todo mundo bem pequenininho, todo mundo batendo
maracá e bailando, mas eram eles mesmos, no salão
da sede. Só não estava eu, nem eu ouvia música
ou os hinos…
– Então, meu irmão, tu estás vendo
o poder de Deus… e tu achas que dá para esconder
alguma coisa de mim? Ou isso não é poder?”.
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***
A
Miração:
Dizem
que o Mestre uma vez narrou uma miração: - contar,
pode, se for para ensinar e não só para ficar
falando, feito tagarela…
Ele ia andando por uma estrada, limpando toda sujeira, que
a Virgem Mãe, a Rainha, ia passar ali. Ele tirava os
garranchos, arrancava os tocos, deixava a terra lisinha mas,
se olhava para trás, tinha tudo nascido de novo. Pronto!,
olha ele voltando, tornando a limpar, para ver se ia um pouco
para a frente mas, se olhava para trás, estava tudo
cheio de estrepe, de novo! Aí apareceu a Rainha e ele
perguntou:
-
Ô, minha Mãe, o que é que há? Eu
limpo, limpo, limpo, e tudo fica sujo de novo?
Ela respondeu:
- São os seus irmãos, meu filho, são
seus irmãos. São seus irmãos…
- E como eu faço, então?
- Só quando estiver tudo assim…, ela disse, com
um gesto, e mostrou um campo de cruzes.
***
Incorporação:
"Outras linhas podem até fazer o bem, mas aqui
e acolá elas 'castigam' com o mal. Aqui, acolá,
o mal também penetra, e dentro da nossa linha, não.
Isso é o que eu tenho para dizer, porque o Mestre sempre
dizia:
- Quem quiser seguir e aprender alguma coisa dentro dessa
doutrina é com Daime, não tem esse negócio
de misturar com isso, misturar com aquilo, nem entrar em outras
linhas.
Ele era completamente contra incorporação, pois
o daime não manda ninguém vir lhe dizer, ele
mesmo mostra…
e por isso o Mestre não adotava, não sabe? Esse
negócio de incorporação, essas coisas
ele nunca adotou, porque dentro da linha do daime, se o irmão
está preparado, toma o daime e vai procurar a sua linha,
o seu seguimento. O irmão recebe a mensagem que for
preciso, a entidade até vem e lhe diz, o irmão
olhando a entidade, então o irmão ouve ou tem
por intuição. Mas consciente! A mensagem! Não
precisa mandar recado, não sabe? Ele não adotava
essas coisas porque ele dizia que tem mais mentira que verdade.
O que ele falava era isso: " há mais mentira do que verdade, nessas linhas da
incorporação. Onde existe uma verdade, existem
cem mentiras!"
Percília Matos da Silva - www.juramidam.jor.br
Com
delicadeza mestre Irineu respondeu uma vez, quando alguém
sugeriu a adoção de outras práticas: "Olhe, não leve a mal, mas aqui na minha casa não
se enfeita com flores dos outros, não. Aqui já
tem o enfeite da casa."
Daniel Acelino Serra - www.juramidam.jor.br
***
O
Maracá enquanto instrumento musical:
Um sinônimo
de Maracá seria simplesmente chocalho. No entanto o
maracá usado nos rituais daimistas tem características
especificas. Geralmente são chocalhos metálicos,
feitos com uma lata de tamanho médio ou pequeno, geralmente
aquelas latas de leite condensado normal ou mini, com pequenas
bolinhas de aço (esferas de rolamento) dentro e cabo
de madeira. No entanto ainda não existe uma padronização,
havendo maracás de coco, de cabaça, de madeira
e dos mais variados materiais.
A uniformização,
conforme o ideal estabelecido por Irineu Serra, seria do maracá
feito de lata e cada fardado possuiria um, fazendo ele parte
da farda (vestimenta ritual). Este maracá deve ser
tocado batendo sua parte superior na mão em marcações
constantes.
Estas
marcações seguiriam o compasso da musica. Uma
musica em compasso quaternário como a marcha teria
marcação ( f - f - f - F ) aonde a ultima seria
uma batida para cima (Rufo) ao invés de ser na mão.
Uma valsa em compasso ternário teria a marcação
( F - F - f ) e a mazurca em compasso binário composto
teria a marcação
( f - f - f - F - F - F ) (4). O compasso se seguido corretamente
por todos vai produzir o som uníssono e cadenciado
favorecedor da expansão da consciência.
A padronização
uma vez idealizada por Irineu Serra sofre sobre vários
aspectos. O primeiro deles seria a grande diferença
de materiais na fabricação dos maracás,
o que produz um som diferenciado. A segunda seria a própria
maneira de tocar de cada pessoa. Há pessoas que tocam
batendo o maracá na mão(5). No entanto, as pessoas
que usam o caderno com a letra das músicas do hinário
em uma das mãos, em geral, não batem o maracá
na mão por estar com ela ocupada (6). Desta forma a
pessoa tem que bater o maracá, ora para baixo ora para
cima, o que por si só produz um som diferenciado.
Algumas
pessoas desviam o toque do seu maracá da marcação
básica, produzindo viradas e repiques diferenciados.
Existe uma grande problemática e discussão acerca
do toque dos maracás. Durante as entrevistas constatou-se
que os adeptos dão grande importância e fazem
restrições ao "volume" do toque de
outros adeptos, bem como restrições a estes
toques diferenciados. Por vezes tivemos relatos como:
"Um
ótimo xamã para entrevista sobre o maracá
é o Padrinho Eduardo do Céu de Maria [SP]. Ele
fica muito chateado quando escuta um maracá pasteurizado."
(Jussara)
"Lá
no Flor das Águas, igreja do Pedro Malheiros em São
Paulo, ainda quando na garagem da casa do Pedro, haviam maracás
indígenas, mas eram pouco usados. Na verdade, não
eram maracás afinados, próprios para o culto
do Daime, e eu poderia até chamá-los de chocalhos."
(Eduardo Bayer - entrevista por e-mail)
"...
não há necessariamente uma maneira correta (de
tocar), acredito que se possa fazer o tempo forte a sua maneira,
desde que se mantenha atento para não perder o tempo
e prejudicar o ritmo, conseqüentemente a harmonia do
trabalho." (Alex Guedes dos Anjos)
"...
uma irmã falava: Olhem a altura do maracá! Vamos
trabalhar com as energias mais elevadas, acima do coração,
nunca abaixo." (Silvia)
"
Também quando mal tocado e interpretado em suas forças,
sozinho ou aliado a com uma percussão que não
conseguira tocar, e lá esta o fim do trabalho e a peia
geral (7) se instala e ninguém mais se entende na harmonia
do hino e do salão que vira aquela taquicardia e acelera
e diminui e é muito difícil um Maracá
mal tocado." (Timberê - entrevista por e-mail ao
membro do grupo daimista na França)
"Afirmações
como “devem conter 132 esferas” (em alusão
ao total de hinos do “O Cruzeiro Universal”),
“há maracás masculinos e maracás
femininos”, “os maracás devem soar em uma
nota específica”, ou “há uma forma
ritual de confeccioná-los”, são superstições
de fundo idolátrico...”
"...
Mestre Irineu não deixou nada determinado a respeito
dos maracás, embora incentivasse a padronização,
razão pela qual devem ser todos o mais semelhantes
possível entre si e o verdadeiramente importante é
todos soarem em uníssono no correr do serviço
espiritual bailado, atuando poderosamente sobre o psiquismo
dos fiéis e facilitando a expansão de consciência
que favorece o serviço espiritual." (Luiz Carlos
Teixeira de Freitas em entrevista por e-mail citando seu livro
ainda no prelo)
"O
maracá deve estar afinado convenientemente. Em tese,
todo fardado deveria ter um maracá. Deve saber tocá-lo
adequadamente dentro do ritmo exigido pelo hino. O comando
do trabalho poderá limitar o número de maracás,
se assim julgar conveniente." (Livro Normas de Ritual
editado pelo CEFLURIS)
Percebemos,
então, que preza-se o maracá tocado com som
uniforme. Sendo assim quando existe uma inadequação
cabe ao "comando do trabalho" julgar a maneira conveniente
de proceder. O que, por vezes, pode terminar em discussões
acaloradas. Existe ainda um debate acerca da afinação
do maracá no entanto este aspecto, como outros, também
faz parte de toda a discussão acerca do maracá
enquanto instrumento musical.
E-mail
gentilmente enviado por Florestan Neto - Céu da Fortaleza
/ Pauini - AM
***
Daimista
ou Ayahuasqueiro?
– O senhor me recordou um fato, "seu" Nica:
no ano passado [1994] eu conversava com dona Peregrina, a
viúva do Mestre, e em certo momento eu falei em ser
daimista… Aí ela me atalhou: 'eu preferia que
o senhor usasse o termo que o Mestre usava. Ele dizia que
era uasqueiro'…
– Uasqueiro!
– Isso… Ele dizia assim, "seu" Nica?
– Dizia. E com muita ênfase!
– Mesmo depois de ter dado o nome de Daime à
bebida?
– Sim, de Daime…
– Uasqueiro?
– Uasqueiro, é ele. Ele não fugia, assim,
da raiz, né?
– Isso me chamou a atenção, "seu"
Nica… Esse comentário da dona Peregrina me chamou
muito a atenção!
– Eu, sinceramente, eu posso frisar isso aí como
memória, para ficar em memória. São palavras
dele, vamos dizer assim, são palavras dele: nós
somos, éramos e continuamos sendo uasqueiros.
www.juramidam.jor.br
***
Fiscalização:
Não
por outro motivo os serviços daimistas têm "fiscais"
de terreiro, porta ou salão, homens e mulheres preparados
com antecedência e mantidos atentos no transcurso de
todo o serviço, prestes a ajudar quem precise, a conter
descomedimentos, a dar suporte a quem caia ou a amparar quem
necessite consolo frente à própria miséria
e dor.
Uma distração, mínima que seja –
e um irmão pode se machucar ou ferir outrem, bem como
comprometer em alguma medida o coletivo!
Um fiscal de terreiro ou de porta não examina com atenção
apenas quem, na matéria, adentra o espaço –
e como entra. Tão importante quanto isto é aprender
a identificar quem se achega no invisível, atraído
pelo que ali ocorre ou habituado a acompanhar quem ali se
trabalha, bem como se dá o que se passa com quem ali
se desintegra para tentar se reintegrar melhor, por ação
e Graça do Espírito Santo.
Luiz Carlos Teixeira de Freitas
***
A
Vela:
Por
isso não há um incenso em cada canto ou uma
vela em cada esquina: vela é sobre a mesa, em frente
ao cruzeiro:
– E se o pessoal quer colocar uma vela aqui, outra acolá,
pode?
– 'Não, isso aí é fora do ar; para
não incentivar muito, faz o normal mesmo, só
no cruzeiro. Porque tem gente que quer coisa demais, aí
já chega um que não tem experiência do
trabalho e, ó!, vela é no cruzeiro mesmo…
Daniel Acelino Serra - www.juramidam.jor.br
***
A
Disciplina:
"Naquele
tempo, com o Mestre na matéria, era uma disciplina
tão forte que a pessoa tinha de ser unido, tinha de
se unir uns aos outros ou então dizer por quê,
para fazer paz. Se olhasse com a cara feia um para o outro
assim de manhã, de tarde ia fazer as pazes, não
sabe?, se sabia que de noite ia tomar daime e o daime ia 'pegar'…
Aí o Mestre pediu, pediu à Rainha da floresta,
um ser superior, que afastasse essa disciplina, pois ele queria
ensinar mas queria ensinar com carinho, com amor, para as
pessoas entenderem, não sabe?, sem ser preciso tanta
disciplina. Com isso, ele afastou a disciplina e talvez, se
ainda houvesse essa disciplina, não haveria tanta desunião
como há hoje. Mas ele é quem sabe, ele é
quem sabe por que fez isso, não é?"
Percília Matos da Silva
***
Fileiras
do bailado:
Desde cedo Mestre Irineu separou homens e mulheres no salão,
exceto na mesa de serviço, dispondo, como vimos, homens
e mulheres, e moças e rapazes, frente a frente mas
distantes. Há de se perguntar, então: além
da determinação de haver separação
entre os gêneros, qual o critério para definir
"moças" e "rapazes"? "No tempo
do Mestre, era para arrumar o salão, não sabe?
Homens e rapazes, assim como mulheres e moças, têm
mentalidade diferente, não é? Então,
moços de até uns 18 anos e moças, enquanto
se compõem como moças, ficam nas filas dos solteiros;
depois, vão para as filas de homens ou de mulheres".
E havia alguma "razão espiritual" definidora
do que seja uma "moça", talvez associada
à virgindade? "Não, era para arrumar o
salão, para fazer ordem e ajeitar o povo", says Percília Matos da Silva.
Explicação análoga (equivalente) a esta
eu encontrei com rigorosamente todas as daimistas mais antigas
com quem pude conversar em Rio Branco, Acre, em que pese a
delicadeza do tema e a falta de hábito de discuti–lo
com um homem, além de tudo "estrangeiro".
Muitas das quais, aliás, vão aos serviços
espirituais com adereços, leve maquiagem ou unhas pintadas
com discrição, como é normal, belo e
saudável, "qual noiva prometida que se enfeita
com seus adornos".
Determina–se pelo Brasil a fora, todavia, que as filas
das moças são "das virgens". Ora,
e como saber se determinada moça "ainda é
virgem"? Ao que respondem: "fica por conta da consciência
de cada uma". "É uma questão espiritual…",
resumem. Mas por que a questão da virgindade, se verdadeiramente
espiritual, determina só os seres humanos do gênero
feminino? Ninguém responde, pois se trata de moral
estreita de costumes e nada mais.
E, assim, vai–se cuidando do que menos interessa, deixando
de lado o que realmente importa!
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***
Consciência:
Deve
ser dito que pode haver – e há – incorporações
com a preservação da consciência, como
mestre Irineu ensinava, mas a firme adoção do
princípio de soberania do arbítrio requer a
interdição das práticas de perda de consciência,
mais usuais no candomblé e na umbanda, que passo a
passo se estabeleceram em centros daimistas de todo o Brasil.
Ademais,
embora possa ocorrer fortes tremores corporais em serviços
espirituais mais intensos, como eventualmente se dá
e canta um hino – "aquele que merecer vai ver seu
corpo estremecer" –, mestre Irineu sempre ensinava
que, quando em contato com desencarnados ou encantados, nada
de gestos, automatismos, 'tiques', posturas corporais não
usuais ou caretas – "mungangos", como se diz
no Acre.
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***
Hinário do Antônio Gomes:
Aliás,
um episódio que marca em definitivo a permanente atitude
de mestre Irineu de nunca forçar ou induzir ninguém
a nada (já não fosse o fato de em todas as mais
de dez mil palavras de seu hinário ocorrer uma só
vez o verbo "mandar" na primeira pessoa, unicamente
quando, no hino "Professor", ele afirma que "todos
mandam em sua casa, eu também mando na minha; todos
ficam sem aprender, eu fico com a minha Rainha") é
o havido em relação ao hinário de Antonio
Gomes.
Haviam
me ensinado que um certo hino de Antonio Gomes só era
cantado em "serviços de cura". Todavia, quando
eu soube que os serviços de cura conduzidos por mestre
Irineu eram em silêncio piedoso, razão pela qual
o que me fora ensinado não deveria proceder, busquei
conhecimento com dona Adália de Castro Grangeiro, filha
de Antonio Gomes e zeladora de seu hinário.
Calmamente
ela me relatou que, após a passagem de seu pai, mestre
Irineu lhe pedira que inserisse novamente o quinto hino do
hinário nos serviços bailados, pois Antonio
Gomes, em vida, o deixara fora dos serviços de hinário,
por suas próprias razões, embora, de acordo
com ela, "nunca tivesse declarado que não era
para pôr…":
–
E a senhora não pôs?
– Pois é, eu até que tentei, mas as pessoas
não estavam acostumadas, ficaram com preguiça
de ensaiar e eu não nasci para mandar…
– A senhora está me dizendo que o Mestre pediu
e ninguém fez?! E que este hino está até
hoje fora dos serviços bailados apenas por não
terem atendido ao pedido dele?
– É…
– E o Mestre, não pediu de novo?
– Ah! Ele nunca falava duas vezes a mesma coisa, salvo
se o irmão não tivesse entendido e pedisse explicação.
Quando falava, quem prestasse atenção e quisesse
obedecer, obedecia…
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***
O
Feitor:
Contam
que entre os feitores de daime congregados à volta
de mestre Irineu uma vez se instalou a disputa: quem fazia
o "melhor daime"?, no sentido de daime mais bem
preparado conforme o procedimento ensinado por mestre Irineu
(total abstinência sexual por três dias antes
da colheita de material – cipó, folhas e madeira
bálsamo, sempre sob a lua nova – e durante o
serviço de preparo; absoluta abolição
de pensamentos ou sentimentos impróprios às
virtudes em todo este período, variável de sete
a dez dias; integral dedicação à tarefa
do feitio até o momento em que o daime, já pronto,
esteja descansando em garrafas de vidro e nunca de plástico).
Mestre
Irineu convocou seus feitores e declarou que certo dia haveria
um serviço espiritual dedicado a esta "conferência
de mérito, para atribuição de patente":
todos trariam uma garrafa de daime, as garrafas seriam colocadas
em uma mesa ao centro do serviço e na garrafa com o
"melhor daime" os presentes mirariam uma rosa.
Francisco Granjeiro, Manoel Cipriano, Raimundo "Loredo"
Ferreira, Sebastião Mota de Melo e outros feitores
trouxeram as garrafas e, em certo momento do serviço,
todos miraram uma rosa brotar na garrafa do daime feito por
"seu" Loredo.
***
Trabalhos oficiais:
Eu
sempre visitava o Mestre, fora os trabalhos. Quando eu peguei
amor por ele, eu ia lá e levava uma sacolinha. Eu levava
almoço, e almoçava com ele. Na mesa, Mestre
Irineu não dava uma palavra. Eu
não alcancei ele bailando, mas alcancei ele dançando.
São Pedro era festa dançante. Aniversário
dele tinha também festa dançante. Um dia, eu
disse a ele:
-
Mestre, eu tenho tanto que fazer... É obrigado a vir
em todos os trabalhos?
-
Não senhor. Eu exijo dos oficiais que venham nos trabalhos
oficiais.
-
E quais são os trabalhos oficiais?
-
Da Família Sagrada: São José, São
João - que era primo de Jesus, Nossa Senhora da Conceição,
a data de nascimento de Jesus Cristo; os Santos Reis; Semana
Santa; Finados; e o aniversário do presidente –
o sr. Leôncio.
-
O senhor falou de todos os trabalhos oficiais, mas não
falou do aniversário do seu nascimento.
-
Desse dia eu não sei de nada, fico bem pequenininho...
Aí
me veio a compreensão que o aniversário dele,
não era ele que fazia. Eram os discípulos. Perto
da passagem do Mestre, ele recebeu um hino avisando. A primeira
crise que ele teve, eu estava lá. Nesse tempo eu estava
fraco, com medo do Daime que fazia dó. E o Mestre me
disse:
-
No ponto que o senhor está, muitos correm. O senhor
diminua o seu Daime, para não correr. Seu Daime deve
ser bem pouquinho, só para fechar o corpo. E não
se preocupe, que quem vai devagar também chega.
Depois
disso, veio o hino que fala: "Me mandaram eu voltar /
Eu estou firme vou trabalhar". Ele ficou contente. Pouco
depois veio o "Pisei na terra fria". Ele convocou
uma reunião e esclareceu:
-
Esse hino não é só para mim. É
para todo mundo. Todo mundo que nasceu, tem que morrer.
Assim,
ele conformou o povo.
Depoimento de Wilson Carneiro de Souza - "Padrinho
Wilson"
***
A mão do Mestre:
Tem uma história que contam que o Sr. Jacude foi até o Mestre e pediu assim: “Mestre eu quero tomar um Daime dado pela sua mão”. O mestre então disse pro Sr. Jacude, “Vá até o ponto do Sr Wilson Carneiro e diga que eu mandei te dar um Daime”. O Sr Jacude insistiu: “mas Mestre, eu quero um Daime dado pela sua mão”, e o Mestre respondeu: “então vá lá no Wilson Carneiro e tome o Daime lá”. O Sr. Jacude saiu meio que triste pois queria receber o daime da mão do Mestre. Mas foi na casa do Pad Wilson e disse que ele pedira um Daime ao Mestre e o Mestre mandou para o seu Wilson servi-lo. Pad Wilson foi dar o Daime pro Sr. Jacude, e quando o Sr. Jacude foi pegar o Daime viu ao invés da mão do Padrinho Wilson a mão do Mestre, negra. Detalhe, o Padrinho Wilson era branco. Padrinho Wilson era um curador nato, um homem que dava gosto de estar ao lado num trabalho de cura.
Marco Imperial
***
O Astral:
"Acontece, meu irmão, que mesmo dentro da espiritualidade existe uma parte positiva e uma negativa. Tem o astral superior e tem o inferior, não tem? Então, se a pessoa toma o daime, se concentra e vai fazer o seu trabalho e mergulha logo no astral superior, tudo que vê é correto, não é? Mas se ela não entra no astral superior, fica no inferior e só no 'disse–me–disse', não sai nada certo. Não pode sair certo, não sabe?"
Percília Matos da Silva
***
Proselitismo:
Seja qual for o caminho, caminho que deve ser escolhido e não a ele ser coagido ou seduzido, razão pela qual não deve haver proselitismo e mestre Irineu ensinava que "não se convida ninguém a tomar daime"
João Rodrigues Facundes
***
"Ele respeitava tanto, tanto, tanto, que morou uma pessoa dentro da casa dele, não sei nem por quantos anos… mas muitos anos… era até hanseniano… a gente chamava ele de 'Mouco' e o nome dele era Luiz. Ele morou com o padrinho [Irineu], comendo na casa dele, vivendo dos favores do padrinho. Só que ele dormia, quando eu fui conhecer ele, ele já dormia separado num paiol, o lugar de guardar o milho, o arroz, a macaxeira… Esse 'Mouco' morou com ele todos esses anos, vendo ele tomar daime, ele dar daime a muita gente e esse 'Mouco' nunca pediu para tomar daime e ele também nunca ofereceu, nunca obrigou, nunca chamou. Com determinado tempo esse 'Mouco' saiu de lá, acho que se hospitalizou e faleceu, mas é para ver o tanto que ele respeitava. A coisa mais sublime que ele tinha era o daime e nunca ofereceu".
Saturnino Brito do Nascimento – www.juramidam.jor.br
***
Conta Daniel Acelino Serra, que nem sabia de Daime e, dias depois de chegar a Rio Branco, recém chegado do Maranhão, viu muita gente entrando em casa:
– Todos foram se sentando nos tocos e bancos, daqui a pouco titio trouxe um garrafão e foi dando uma bebida para todo mundo. Eu fiquei só olhando… doente de curiosidade… até uma hora em que ele me fitou em silêncio por um tempo e, já que eu nada disse, voltou–se e continuou a dar do garrafão para as outras pessoas. Aí todo mundo foi se aquietando, eu fiquei no meu canto sem entender nada durante o silêncio compridíssimo que fizeram e no dia seguinte perguntei–lhe o que era aquilo.
– É daime.
– Daime!? O que é isso??? E porque o senhor não me deu um pouco?
– Porque você não pediu. Viu–me ali dando para todo mundo, mas não pediu, e eu não devo oferecer…
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***
A cadeira do Mestre:
“Algumas vezes o Mestre ficava em casa, deixando os trabalhos nas mãos do pessoal de apoio, o pessoal da mesa. Pois na época, o sistema era militar, tinha que começar na hora. Dona Percília sempre chegava na hora e tinha autorização dele para começar os trabalhos. Eu, como Comandante Geral do salão (atribuição dada pelo Mestre), chamava o pessoal no maracá. Quando estava presente, o Mestre poucas vezes ficava na mesa, tinha vezes que ficava no quarto do Daime ou em uma cadeira no salão, na parte direita do salão. A cadeira da mesa ficava vazia. Quando a gente menos esperava, ele sentava na cabeceira.”
Daniel Arcelino Serra - www.afamiliajuramidam.org
***
Fogos de artifício:
“Depois do segundo dia não foi mais preciso tomar daime e daí por diante entrou 'em trabalho' e foi se apurando de tal forma que ficou de um jeito que tudo era espírito, a floresta também virou uma coisa espiritual, de uma dimensão tão grande que as árvores riam dele, o vento dava nos galhos das árvores e criavam braços, querendo agarrá–lo. As manchas nas árvores eram bocas rindo, falando, conversando e aquilo chegou a se acentuar a um ponto tal que ele temeu, foi dando um certo medo nele; aí, como ele andava com um rifle de caça, naquele temor ele detonava o tiro e no estampido recebia um encorajamento e um conforto, o que leva até a crer que foi o que fez com que ele inserisse, inclusive com muita ênfase, os fogos dentro do trabalho.”
***
Publicado em: 08/08/2008
Autor: Textos
Fonte: afamiliajuramidam.org
Comentrio(s) dos leitores
1. São muito interessantes essas informações.
20/10/2009 15:47:00
Prabéns ao resposável por essa pesquisa está me ajudando e muito.
Ronaldo Boliwar da Silva Nunes
r_boliwar@hotmail.com -
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