Artigo de Charlie Drews Tomaz dos Santos



O Santo Daime e a Bíblia

 

Certa vez perguntaram ao Mestre Irineu se havia algum livro que continha a doutrina daimista, e ele respondeu: “Sim, e esse livro é a Bíblia”. E com essa afirmação podemos fazer uma reflexão acerca de qual seria a relação entre o Santo Daime e o livro chamado Bíblia, que tantas controversas teológicas geram.

 

O que seria a Bíblia? É um livro contendo o que denominamos de “antigo testamento” e “novo testamento”, sendo o primeiro composto dos livros considerados sagrados pelo povo judeu, escritos, em sua maioria, pelos antigos profetas. É importantíssimo não esquecermos de realizar uma contextualização histórica e vermos que as páginas do antigo testamento revelam uma lei moral e divina (ditada por Deus a Moisés, quando este recebeu os dez mandamentos – “As tábuas de Moisés, que o meu Pai entregou”) e uma lei jurídica, esta estabelecida pelo próprio Moisés para disciplinar um povo rebelde e ainda na sua infância espiritual. A importância destes livros estaria justamente em conservar essa lei moral e também pelas profecias que anteviam a vinda do próprio Messias, ou seja, do Mestre Jesus.

 

Já o novo testamento veio através da figura do nosso mestre, que veio trazer uma mensagem de amor e redenção para toda a humanidade, e neste sentido estabelecer uma nova “aliança” (daí o sentido da palavra testamento: aliança). Porém o próprio Jesus deixou claro que não trouxe toda a verdade, justamente porque a humanidade da época seria incapaz de entender (aliás, não foram capazes de entender nem a mensagem trazida pelo próprio Cristo, imagine se fosse além disso!). Como vemos:

 

Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei a meu Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem me Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. (João, 14:15 a 17 e 26).

 

Nesse sentido, ao contrário do que pregam certos grupos fundamentalistas, o próprio Cristo prometeu que o Pai enviaria outro Consolador, que ensinaria todas as coisas e também nos lembraria todos os ensinos nos dados pelo divino mestre. Assim sendo, conforme nos afirma o daimista Alex Polari, em seus livros, o Santo Daime seria o Consolador prometido por Jesus no Evangelho de João, pois tanto nos ensina todas as coisas do mundo espiritual como testifica, na luz do astral, todos os ensinamentos deixados pelo rabi da Galiléia. A própria comunhão de pão e vinho, ocorrida na Santa Ceia, seria, hoje, a comunhão do Daime, que representaria o próprio sangue de Cristo, o vinho milagroso, pois, conforme ensinado pelo hino, “sou o pão maravilhoso que me transformei em vinho”, ou então, segundo o hino do Pad. Valdete: “Eu tomo Daime e considero este vinho o mesmo vinho que Jesus deu para tomar”. Assim sendo, enquanto católicos vem no vinho alcoólico o representante do sangue de Cristo, nós, daimistas, o vemos como o próprio Daime.

Nossos hinários sagrados poderiam ser considerados a “terceira revelação” ou então o “terceiro testamento”, que não vieram negar os ensinos de Cristo, mas sim lhes dá aplicação, da mesma maneira como Jesus não veio negar a lei divina mosaica, mas da-lhe novo sentido.

 

Com base nisto tudo, e nos próprios dizeres do Mestre Irineu, vemos a importância da Bíblia (e em especial dos evangelhos) para a doutrina daimista. Porém, infelizmente (e aqui cabe uma crítica construtiva) vemos poucos daimistas empenhados num estudo bíblico. Vemos muitos estudando diversas outras práticas, mas poucos estudando a Bíblia. Obviamente que devemos estudar as mais variadas contribuições espirituais sim, pois ninguém nega o caráter eclético da nossa religião, pois o “Santo Daime em tudo se soma”. Porém, parafraseando o mesmo hino, esquecemos, às vezes, que “O Mestre é o de Nazaré” e a Bíblia continua sendo a maior referencia histórica da trajetória de Jesus Cristo e de seus apóstolos na Terra. Obviamente sabemos que a compilação do novo testamento foi realizada pela própria Igreja Romana em seus vários concílios teológicos realizados nos finais da idade antiga, onde escolheu determinados livros em detrimentos de outros, considerados os “evangelhos apócrifos”, que chegam à casa das centenas, e dentre os quais temos maravilhosos relatos como do Evangelho de Tomé, de Maria Madalena, etc. Estudar esses textos ditos “apócrifos” é essencial, pois muito podem nos dizer acerca dos ensinos do nosso mestre. Porém não podemos, por isso, negar a importância dos evangelhos canônicos ou bíblicos. O Evangelho de João, por exemplo, é riquíssimo na retratação mística de Jesus, se tornando leitura indispensável para todo daimista, para compreender “aquele que ninguém sabe compreender”. De inegável valor também são os livros dos atos dos apóstolos, as cartas de São Paulo (se devidamente contextualizadas) e, claro, o próprio Apocalipse, que, não por acaso, dá título ao próprio hinário do Pad. Valdete. De difícil leitura o Apocalipse seria fruto da própria expansão de consciência do apóstolo João, que adentrou o mais alto do astral superior, lhe sendo reveladas todas as turbulências materiais e espirituais que o balanço proporcionaria ao mundo.

 

Obviamente, que mesmo considerando o valor inestimável da Bíblia, não fazemos coro com certos setores religiosos fundamentalistas que enxergam neste livro a “única verdade, absoluta e infalível”, pois tão sagrados quanto a Bíblia são o Alcorão, os Vedas, o Baghavad Gita, o Tao Te King e todas as legítimas práticas espirituais de tradição oral, que nunca foram baseadas em “livros sagrados”. Porém a Bíblia teria um valor importante sim para o daimista, pois em suas páginas está contidos – se não todos – a maioria dos ensinamentos proferidos pelo nosso Mestre crístico. E contidas em suas páginas estão todos os ensinos da doutrina daimista, conforme já nos relatou o próprio Mestre Irineu, e também pelo próprio Pad. Sebastião, pois como sabemos o mesmo sempre pedia para que o irmão Lúcio Mortimer realizasse leituras bíblicas durante os trabalhos – práticas, aliás, que eventualmente, poderia ser retomada nos centros daimistas, pois deve ser muito forte ouvir, por exemplo, as palavras do sermão da montanha debaixo da força e da luz da nossa bebida sagrada.

 

Por fim deixo todos com a mais importante passagem bíblica, que segundo o próprio Jesus resume toda a questão:

 

Os fariseus, ao ouvirem que Jesus havia feito os saduceus se calarem, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, perguntou-lhe para tentá-lo: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Jesus lhe respondeu: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E eis o segundo, que é semelhante: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas estão contidos nestes dois mandamentos. (Mateus, 22: 34 a 40).

 

 


Publicado em: 26/08/2009

Autor: Charlie Drews Tomaz dos Santos

Fonte: nocastelo.zip.net



Comentrio(s) dos leitores


1. Ponto contra e a favor

26/08/2009 10:50:00

 

Muito do que foi escrito na Bíblia pode ter sido alterado pela igreja romana em favor de sua detenção de poder sobre a população. Por isso o espiritismo é mais confiável. Na Bíblia, creio eu que seja importante considerar apenas os ensinos de Jesus e seu caráter frente à vida.

 

Gilberto

---- -



2. Relação

10/09/2009 14:53:00

 

Comparando o Santo Daime com a Bíblia, além dos ensinos que os hinarios nos trazem semelhantes aos ensinos bíblicos em algumas passagens faço honrosas comparações da bebida sagrada com algumas passagens bíblicas que diz: Porque na mão do SENHOR há um cálice cujo vinho ferve, cheio de mistura, e dá a beber dele; certamente todos os ímpios da terra sorverão e beberão as suas fezes. (Salmos 75:8) Pois assim me disse o Senhor, o Deus de Israel: Toma da minha mão este cálice do vinho de furor, e faze que dele bebam todas as nações, às quais eu te enviar.Beberão, e cambalearão, e enlouquecerão, por causa da espada, que eu enviarei entre eles. (Jeremias 25:15-16) Rodrigo Alves

 

Rodrigo Alves

rodrigoapn@yahoo.com.br -



3. ...

18/09/2009 11:01:00

 

Caros irmãos, lendo essa mensagem me identifiquei com o que poderá ser dito nas reuniões do Santo Daime quando estivermos na "força". Acredito também que a leitura de escritos sagrados, talvez entoação de mantras e/ou sons vocálicos possam ser de grande valor em nossos encontros, principalmente os do dia 15 e 30, pois quem sabe algumas palavras ditas possam nos ajudar a encontrar a consciência cósmica.

 

Jandir Rodrigues Lopes filho / Ribeirão Preto

jandirlopes@uol.com.br -



4.

03/04/2010 01:16:00

 

Concordo com tudo q foi dito em relação a importância da Bíblia e sua leitura nas reuniões, porque é um caminho seguro na nossa evolução espiritual. Quanto aos comentários de q o Santo Daime é a terceira revelação e etc . . ., parece q estamos copiando o q a Doutrina Espírita (Kardec) diz. Vamos ler a Bíblia sempre. Viva o Santo Daime! Viva a Bíblia! Viva a União!

 

Rui Paranhos

ruiparanhos9@yahoo.com.br -




  

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