128. Eu Cheguei Nesta Casa


Eu cheguei nesta casa,
Eu entrei por esta porta.
Eu venho dar os agradecimentos
A quem rogou por minha volta.

Eu estou dentro desta casa,
Aqui no meio deste salão.
Estou alegre e satisfeito
Junto aqui com os meus irmãos.

Ia fazendo uma viagem,
Ia pensando em não voltar,
Os pedidos foram tantos
Me mandaram eu voltar.

Me mandaram eu voltar,
Eu estou firme, vou trabalhar.
Ensinar os meus irmãos,
Aqueles que me escutar.

 

Penúltimo hino d’O Cruzeiro Universal, este é o último a ser cantado nas datas festivas de Nossa Senhora da Conceição, Natal, São José e São João,[514] do calendário litúrgico da Doutrina do Santo Daime.

Momento apoteótico, é o Gran Finale dessa ópera sacra cabocla, da função religiosa iniciada a várias horas, que teve os seus diversos andamentos. Terminando a função, relembra o seu início:

Eu cheguei nesta casa
Eu entrei por esta porta

A porta do Salão Dourado do Pai Verdadeiro, a porta do Templo do Senhor, a porta da sede de eventos daquela irmandade, a sua egrégora.

Eu venho dar os agradecimentos
A quem rogou por minha volta.

Esse é um hino de agradecimento, agradecimento a todos que rogaram pela volta do nosso Mestre Raimundo Irineu Serra, isto é, para que ele permanecesse mais tempo aqui, encarnado, ao lado da sua irmandade.

Ele, com certeza estava sabendo de sua passagem e sabia que a maior parte não estava preparada. E não era por falta de ensino. Todos sabiam que, quando precisassem de algo, era só correr e perguntar ao Mestre. Todos achavam que nunca haveriam de ficar sem ele.[515]

Alquebrado pelo peso da idade e da morte física que se aproximava, Mestre Raimundo Irineu Serra dizia a todos que o procuravam:
- Eu não sinto dor. Eu não sinto fome. Eu não sinto nada. O que eu sinto é não ter para quem entregar o meu trabalho. E saudades de vocês. Eu sinto uma saudade tão grande de vocês que é isto que está me abatendo.[516]

E continua a depor Dona Percília Matos da Silva, a Percília de Pedro, “Percilinha”:


Ele foi se abatendo, se abatendo... já não mais comia carne. Disse que o organismo dele não mais aceitava essas coisas. E a gente vendo ele se abater. Perto do dia 30 de junho de 1971 perguntei para ele:
- O senhor não gostaria de uma Concentração para melhorar sua saúde?
- É bom! Então vamos fazer. Chame o pessoal mais próximo
.

E assim, a Concentração da noite de 30 de junho de 1971 - poucos dias antes do seu passamento – foi feita em benefício da sua cura. Talvez aí tenha se originado o “trabalho de cura” como até hoje é realizado nas sedes de serviço da Doutrina do Santo Daime, na linha do Mestre Irineu: em silêncio, em concentração.

Ia fazendo uma viagem,
Ia pensando em não voltar

E a resposta do Mestre Irineu aos rogos dos seus discípulos foi:

Os pedidos foram tantos
Me mandaram eu voltar

Depõe Luiz Mendes do Nascimento:

Ele voltou mais uma vez, para justamente agradecer. Eu venho dar os agradecimentos a quem rogou por minha volta, e ao mesmo tempo, nos passar uma lição imensa, muito valorosa, que é pedir e saber pedir, porque são válidos os nossos pedidos, naquilo que justamente está dentro do regulamento. Pedir, saber a quem se pede e saber também o que se pede. Bom, o certo é que os pedidos foram tantos, que mandaram ele voltar.[517]

Quando eu, Juarez Bomfim, tomei Daime pela primeira vez, tive a experiência mais marcante da minha vida, um êxtase místico revelatório, onde toda a verdade de Deus me foi revelada, e desejei permanecer naquele estado de Gozo Supremo, de plena felicidade que tinha alcançado. A partir daquela data, passei a viajar na Luz do Santo Daime nas sessões periódicas das quais participava, e prometi ser fiel a essa Luz pelo resto dos meus dias.

A força e o poder que então se manifestava, belezas e primores que mirava, viagens astrais, revelações morais da filosofia universal - cristã, paulina -[518] passaram a ser então o poder que me leva e determina, esse ser renascido em Cristo que sou - na Luz do Santo Daime e na doutrina de Raimundo Irineu Serra.

Paradoxalmente, tinha um certo receio de não mais voltar desses mundos astrais que visitava e mirava, quando meu espírito se desprendia da matéria e viajava por “mares nunca d’antes navegados”,[519] o oceano quântico do amor e da verdade. Sem ainda conhecer o contexto do recebimento do hino, entendia a mensagem como endereçada a mim: “me mandaram eu voltar”. Esses versos eram a chave para o encerramento do trabalho, para assentar no mundo terra.

Me mandaram eu voltar
Eu estou firme, vou trabalhar
Ensinar os meus irmãos
Aqueles que me escutar

Jesus Cristo, o Bom Pastor, veio para os seus: “Eu não deixo perecer nenhum daqueles que são meus”;[520] Raimundo Irineu Serra, Mestre Ensinador, poderia afirmar, assim como o Cristo afirmou: “Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”,[521] pois “bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam![522]

A um irmão descrente que foi visitá-lo, e que lhe falou da dificuldade de acreditar em Deus, Mestre Irineu recomendou:

- Acredite em mim, que estou aqui, frente a você, que eu acredito em Deus por vós.

Jesus Cristo e Raimundo Irineu Serra Juramidam: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos”.[523]

Amém!

 

 

Notas:

[514] Na Noite dos Santos Reis, em 5 de janeiro, e no aniversário de morte do Mestre Irineu, em 6 de julho, também é cantado o “Pisei na terra fria”.
[515] Depoimento de Percília Matos da Silva. Disponível em http://www.mestreirineu.org/percilia.htm Acesso em 20 de abril de 2006.
[516] Idem, ibidem.
[517] Depoimento de Luiz Mendes do Nascimento. Disponível em http://www.mestreirineu.org/luiz.htm Acesso em 20 de abril de 2006.
[518] Ensinamentos das Epístolas de São Paulo.
[519] OS LUSÍADAS, de Luis Vaz de Camões.
[520] João 18: 9.
[521] João 18: 37.
[522] Lucas 11: 28.
[523] João 8: 31.

 


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