118. Todos Querem Ser Irmãos


Todos querem ser irmãos
Mas não têm a lealdade
Para seguir na vida espírita
Que é o reino da verdade.

É o reino da verdade,
É a estrada do amor:
É todos prestar atenção
Aos ensinos do professor.

Os ensinos do professor
É que nos traz belas lições:
Para todos se unir
E respeitar os seus irmãos.

Respeitar os seus irmãos
Com alegria e com amor,
Para todos conhecer
E saber dar o seu valor.

 

Os Hinos Novos (O Cruzeirinho) são considerados a síntese de toda a Doutrina do Santo Daime. Um resumo teológico e doutrinário. É por isso que ele é cantado ao término das concentrações dos dias 15 e 30 e de todos os hinários (bailados) que são iniciados com os hinos de abertura “Sol, lua, estrela” e “Devo amar aquela Luz”.

Aqui, pela primeira vez após todo o longo percurso de ensinos transmitidos nos 117 hinos anteriores, é explicitado claramente o caráter espírita da Doutrina do Mestre Irineu.

A doutrina espírita, ou espiritismo, tal qual é difundida no Brasil, foi organizada por Hyppolyte Leon Denizard Rivail (1804-1869), nome civil de Allan Kardec, o Codificador, nascido em Lion, na França. O movimento espírita americano e de outras partes do mundo tem outros exponenciais, sendo Kardec um pensador desconhecido nestes países.

O espiritismo kardecista é a doutrina baseada na crença da sobrevivência da alma e da existência de comunicação, por meio da mediunidade, entre vivos e mortos, entre os espíritos encarnados e os desencarnados. Já a doutrina do Santo Daime do Mestre Raimundo Irineu Serra, apesar de afirmar-se como espírita, guarda diferenças doutrinárias frente à escola kardecista.[483]

O cânon (poema litúrgico) daimista enuncia as verdades da fé cristã, previstas já no Antigo Testamento. O seu fundamento teológico é a idéia da salvação realizada pelo nosso Senhor Jesus Cristo intermediada por Sua mãe, a Virgem da Conceição. Dessa maneira, a doutrina daimista tem como núcleo pétreo de fé a crença em que Jesus Cristo foi Deus feito homem, e veio ao mundo para livrar das penas do inferno quem nele creia, e a Ele peça porque crê.

A doutrina daimista é reencarnacionista: acredita que para nossa remissão encarnamos e reencarnamos no mundo terra, “se Deus lhe der licença”, e o objetivo maior é a iluminação divina, a auto-realização. Isso a coloca ao lado de grandes sistemas religiosos como o hinduismo, budismo e de inúmeras outras concepções religiosas e filosóficas que existiram através da história da civilização. 

Na doutrina de Irineu Serra, a comunicação que se deve estabelecer entre o mundo terra e a vida espiritual é com os planos superiores, o Astral Superior. Em contrição o devoto deve buscar ao Divino Pai Eterno, a Rainha da Floresta, Jesus Cristo Redentor, o Patriarca São José, os Seres Divinos da Corte Celestial e o Chefe Imperador Juramidam, e a eles rogar. A bebida de “poder inacreditável” que tomamos possibilita essa ascensão aos planos superiores.

As mensagens doutrinárias transmitidas através dos hinos, enviadas do Astral, são recebidas pelos “aparelhos” (adeptos da Doutrina) num fenômeno mediúnico de psicografia e psicofonia – semelhantes ao kardecismo. São mensagens de louvor a Deus e de instruções de ordem moral e ética cristã.

O padrinho recebia esses hinos e tinha toda satisfação de apresentar. Os que moravam com ele eram os primeiros, mas também apresentava para quem vinha chegando, como era meu caso. Ele tinha aquela satisfação. Aí, num dado momento eu apareci lá, ele disse: É Luiz, tem hino novo aí! Você quer ouvir?

Eu disse: Com toda satisfação.

Ele chamou a comadre Peregrina, a Maria Zacarias e ordenou: Cantem esse hino aí para o Luiz ouvir.

Mas daí, neste ínterim, vinha chegando o nosso irmão Júlio Carioca, que também tomou parte. Foi subindo, foi tomando benção para ao padrinho e o padrinho foi dizendo para ele: Júlio, eu tinha pedido aqui para as meninas cantarem um hino novo para o Luiz, mas aí você chegou... Então também é para você. Que ouvir?

Ele disse que sim, e começaram a cantar o hino. Cantaram uma, duas, três vezes. Quando terminaram, ele perguntou para nós: Que tal o hino?

Aí o Júlio Carioca avançou: Ô Padrinho, mas o hino é bonito! Mas o hino é maravilhoso!

Então o padrinho disse: Dobre a língua. O hino não é tão bonito assim como você está dizendo não. Não é essa maravilha como você está dizendo não. Sabe o que é bonito do hino? É fazer o que o hino diz. Isso sim, é bonito.

Aí, rapaz, eu fiquei... Puxa vida, mas me tirou duma! Porque eu ia responder a mesma coisa do Júlio. Não ia dizer diferente. Mas estava guardado era para o Júlio mesmo....[484]

E todos caíram na risada ao ouvir o seu Luiz Mendes contar mais esse causo do Mestre. Até hoje, com muito bom humor o nosso Mestre nos ensina.

 

Notas:

[483] Não é pretensão desse breve estudo traçar um comparativo entre as duas doutrinas.
[484] Depoimento de Luiz Mendes do Nascimento. Disponível em http://www.mestreirineu.org/luiz.htm. Acesso em 20 de abril de 2006.

 


mestreirineu.org
 
capa artigos matérias noticias entrevistas recomendacoes sobre
2019 Portal do Santo Daime