111. Estou Aqui


Estou aqui
Eu não estando, como é?
Eu penso na verdade
Me vem tudo o que eu quiser

A minha Mãe me trouxe
Ela deseja me levar
Todos nós temos a certeza
Deste mundo se ausentar

Eu vou contente
Com esperança de voltar
Nem que seja em pensamento
Tudo eu hei de me lembrar

Aqui findei
Faço a minha narração
Para sempre se lembrarem
Do Velho Juramidam.

 

Certa vez, lá na Vila Irineu Serra, presenciei o seguinte diálogo entre o sobrinho-neto do Mestre Irineu, de sete anos de idade, com um líder daimista:

- Quem é Juramidam?

E a resposta veio concisa:

- Juramidam é Mestre Irineu no Astral Superior.

E assim o menino Lucas obteve uma resposta precisa sobre a identidade do seu tio-avô.

A dividade Juramidam aparece só no hino 111 d’O Cruzeiro Universal. Este nome sagrado surgiu nos rituais da doutrina do Santo Daime quando o Sr. Antônio Gomes recebeu o hino "General Juramidam", muito antes dessa apresentação “tardia”[431] no hinário do Mestre.

Quem é Juramidam? O professor Clodomir Monteiro sugere que

Possivelmente o recurso esotérico, do segredo, da cabala, sempre presentes nos cultos das antigas seitas ou irmandades secretas, como a maçonaria, cultos espíritas, e ainda hoje no hinário de Irineu Serra, tenham impedidos que alguns termos ou símbolos perdessem seu significado original assimilando, ou adquirindo, explicações pela via da dissimulação ou ocultamento do sentido original.[432]

Dessa forma, Monteiro dá a entender que a sintaxe do substantivo próprio Juramidam alude ao culto afro-brasileiro à serpente mítica Dã (de origem Fon, Benin). E diz: “se o significado original permanece restrito ao grupo de iniciados e estes se dispersam ou, por juramento o instituidor não revela e não há registro a não ser oral, este pode se perder”.

Bem, que Irineu Serra tivesse feito uma jura à serpente mítica Dã é pouco provável; entretanto, que a fantástica cobra mítica abre o mundo encantado das mirações para nós ayahuasqueiros... não há dúvidas.

Raimundo Irineu Serra morreu em 1971, aos 79 anos. Seis dias antes da sua “passagem”, ao final da concentração (ritual que se costuma praticar nos dias 15 e 30 de cada mês), ele havia perguntado aos seus adeptos: “Quem foi que viu o meu enterro?” Obteve o silêncio e a expectativa como respostas. Ele então continua:

- Eu cheguei a um salão onde havia uma mesa ordenada, toda composta com as cadeiras em seu lugar, só havia uma cadeira vazia, a da cabeceira.

Aí a Virgem Mãe Soberana chegou ao seu lado e disse:

- De hoje em diante você será o chefe geral dessa missão. Tu és o chefe. No céu, na terra e no mar. Para todos os efeitos. Todo aquele que de ti se recorde e te chame de coração, e confie, receberá a luz.[433]

Arneide Cemin pergunta: “quem é esse ser que se arvora o direito de ser seguido? Que se constitui em modelo de vida, de espírito e de vontade que assoma sobre outras vontades, estabelecendo seu domínio, seu império?”[434]

Na doutrina do Santo Daime, Raimundo Irineu Serra - o seu fundador - é alçado à condição de hierofante,[435] um "produtor de religião", e a sua pessoa deve ser considerada em duas dimensões: a histórica e a transcendental. A primeira corresponde aos condicionamentos impostos por sua historicidade, e a outra, é aquela que a transcende. 

Para os seus adeptos, quando aqui em matéria, Mestre Irineu curou doentes, consolou aflitos, alimentou e abrigou despossuídos; e, principalmente, foi locus de manifestação do Sagrado. Ele mesmo e sua obra, tornaram-se objeto de divinização.[436]

Ele também foi (é) chamado de Rei Juramidam, Mestre Imperador, Chefe Império, General, Mestre Ensinador, professor, “velho Juramidam”, “dono de todo o Império”, “dono da força maior”...

Porquanto Juramidam

é o nome dele, próprio. Aqui ele era Irineu, mas lá o nome dele é este, o nome próprio dado pela própria divindade a ele lá… Não foi ele quem se fez, né? Ele já veio determinado com esse nome. A patente dele, o espírito dele, lá na eternidade; ninguém chegue lá chamando Irineu, que lá ninguém sabe quem é Irineu, lá é Juramidam. Portanto, quando nós fizermos nossas orações, nossos pedidos, nós temos que pedir a Juramidam. O senhor vai ver o Cristo falando dentro do senhor, puro, puro, puro, é Deus mesmo em verdade.[437]

As escrituras hindus afirmam que tudo que existe no plano material tem seu equivalente feito de luz astral, uma luz mais sutil que as energias eletromagnéticas do átomo - e assim o é nosso Mestre Imperador Juramidam.

Jesus demonstrou esse fato no episódio da sua transfiguração no Monte Tabor.

... tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte. E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tendas, uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias. E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu filho amado, em quem me comprazo; escutai-o.[438]

A filosofia hindu também nos diz que temos três corpos (físico, astral e causal).[439]

A minha Mãe me trouxe
Ela deseja me levar
Todos nós temos a certeza
Deste mundo se ausentar

E o avatar indiano Sri Sathya Sai Baba assegura que o corpo físico é apenas uma vestimenta para o espírito, e quando essa roupa envelhece, ela precisa ser trocada,[440] por isso “a certeza desse mundo se ausentar”.

Eu vou contente
Com esperança de voltar
Nem que seja em pensamento
Tudo eu hei de me lembrar

Quando uma alma rompe o casulo dos três corpos, escapa para sempre da lei da relatividade,[441] e torna-se Um com Deus.[442] O espírito plenamente realizado se liberta do jugo da roda de sansara, dos ciclos de nascimento e morte, encarnação e reencarnação. “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá” (isto é, não mais reencarnará).[443] “A quem vencer, concederei que se assente comigo em meu trono, assim como eu venci e me sentei com meu Pai em Seu trono”.[444]

Porém, embora tenha alcançado a sua perfeição, pela vontade divina um grande Mestre pode voltar ao mundo Terra para continuar a sua obra, isto é, resgatar para Deus os irmãos que ainda estão iludidos, ajudá-los no seu desenvolvimento espiritual – levar mais almas para Deus. Isso justifica a promessa do nosso Mestre.

Para muitos daimistas Juramidam é a complementação do mistério da Santíssima Trindade, o Consolador prometido pelo Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, nos dizeres do Padrinho Sebastião Mota:

Agora é tempo do Espírito Santo (...) Tem o Primeiro, vida de Deus Pai, o mundo Dele. O Segundo, o mundo de Jesus Cristo. E o Terceiro, o mundo do Espírito Santo, pois até o nome é Jura. Como disse, o nome agora é Jura, e é Juramidam. Quem não for Midam, não pode ser filho de Jura.[445]

Dois outros hinos corroboram a tese de que Juramidam é o patriarca de uma família no mundo espiritual, como nos hinos em que as seguintes entidades se apresentam: "eu vou dizer o meu nome, é Taio Cires Midam"[446] ou “Jura é papai, Midam são seus herdeiros, eu sou Adão Midam, eu também sou herdeiro”.[447]

Sebastião Mota esclarece: “Quem é filho é Midam e o chefe é Jura. Daí o sobrenome é Midam. Quem toma Daime (...) é um dos Midans.”[448]

Aqui findei
Faço a minha narração
Para sempre se lembrarem
Do Velho Juramidam

Mestre Imperador, dono de todo Império... a quem for dado o merecimento de a este Império caber,[449] compete a Deus louvar: Meu Império Juramidam, que glória vos pertencer!

 

Notas:

[431] BAYER NETO, Eduardo. Tesouros do Ramefletluz. Nº 2. 27/07/2003
[432] MONTEIRO da Silva, Clodomir. O uso ritual da ayahuasca e o reencontro de duas tradiçõe. A miração e a incorporação no culto do Santo Daime. In: LABATE, Beatriz Caiuby; ARAÚJO, Wladimyr Sena (Orgs.

 


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