Traí, traí, traí, trá
Traí, traí, traí, trá
Trá, trá
Chamo e sei, eu chamo e sei
Chamo e sei quem te mandou
Te recebo, te recebo
Te recebo é com amor
Com a força do meu Pai
Do Poder Superior
Completei um centenário
No cruzeiro universal
Cada um que está comigo
Capriche e venha se apresentar.
No dia 13 de fevereiro de 1958 o Mestre Raimundo Irineu Serra regressa a Rio Branco, depois de uma visita à sua terra natal, São Vicente Ferrer, no Maranhão, da qual se ausentara “longos e sofridos 45 anos”,[380] e a qual retornara para rever os seus familiares.
Quando chegou de sua longuíssima viagem de navio, beirando a terra, beirando o mar, acompanhado de seus três sobrinhos que trouxera junto com ele, a irmandade o esperava reunida no salão da Sede, e lá, com a jovem e pequenina Percília à frente, entoa o
Traí, traí, traí, tráááá.
Traí, traí, traí, tráááá.
Tráááá, tráááá...
Com essa sensível e tocante homenagem a sua gente festejava o retorno do padrinho Irineu – eles que pela primeira vez haviam experimentado a sua ausência - e saudavam o seu regresso às terras do Alto Santo.
Te recebo, te recebo
Te recebo é com amor
Dessa maneira, ao som triunfante das cornetas/trombetas/clarins, [381]que antes já haviam proclamado a chegada do centésimo hino do Mestre Imperador, agora anunciavam a chegada do humilde homem do povo, Raimundo Irineu Serra, por sua irmandade em festa.[382]
Desde então, nas datas comemorativas do calendário cristão, quando a congregação daimista canta o hinário O Cruzeiro Universal em todos os centros livres pelo Brasil afora, a estrofe inicial é entoada por uma só voz, entre as dezenas de soldados enfileirados no salão. E é sempre bom esclarecer que “o traí é uma corneta, é o som de uma corneta, não é uma entidade, não!”.[383]
Neste hino encontra-se um dos enigmas da doutrina, que muitos procuram um significado oculto: por que o hino “Centenário” (o centésimo hino?) é enumerado como o hino de número noventa e sete?
Chama-se Centenário porque ele é o número 100. O negócio é que, tem os que tiraram fora (3 hinos), que não estão na linha, mas contando com estes, dá certinho cem.[384]
Não temos conhecimento desses outros três hinos citados por dona Percília nem do seu conteúdo. Prevalece o enigma e ficam as interpretações.[385]
Cada um que está comigo
Capriche e venha se apresentar
Aí está o alerta e o comando: se está comigo, na minha linha, capriche sempre. Capriche no comportamento pessoal, nas ações, nas relações com o irmão, nos estudos espirituais, na maneira de se apresentar, (principalmente apresentar o seu saber), o zelo em cantar hinário, o zelo com a indumentária... Capriche! E se apresente.
Notas:
[380] MAIA NETO, Florestan J. Contos da Lua Branca. V. 1. Rio Branco: Fundação Elias Mansur, 2003, p.100.
[381] Solfejados na voz aguda de Percília Matos da Silva.
[382] Foram três dias de festa, onde a irmandade deixou de lado os seus habituais fazeres. “Eu me perguntava: será que esse povo não trabalha, não?” Foram essas as divertidas impressões de época, do recém-chegado Daniel Acelino Serra, relatadas ao autor em 14 out 2004.
[383] MAIA NETO, Florestan J. Contos da Lua Branca. V. 1. Rio Branco: Fundação Elias Mansur, 2003, p.44.
[384] Depoimento de Percília Matos da Silva a MAIA NETO, Florestan J. Contos da Lua Branca. V. 1. Rio Branco: Fundação Elias Mansur, 2003, p.44; o Mestre Irineu “passava a limpo”, isto é, revisava os hinos que os membros da irmandade o apresentavam, e permaneciam como hinos “da linha” os hinos de afinidade doutrinária. É provável que tenha feito isso com os seus próprios hinos.
[385] Uma interpretação é de que somando os hinos de abertura, “Sol, lua, estrela” e “Eu devo amar”, mais o “hino sem letra” resultam em 132 hinos (flores).
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