86. Eu Vim da Minha Armada
A estrutura ritualística e organizacional da Doutrina do Santo Daime se assemelha à de um exército. Os seus adeptos vestem fardas (vestimenta ritual) e são identificados como “soldados da Rainha”. O dirigente supremo é o General Juramidam. A organização é dividida em batalhões masculino e feminino, tanto para os adultos como para os jovens. Existe um comandante para cada uma das fileiras e um comandante-geral do salão. Disciplina e obediência são requisitos exigidos para os membros da irmandade, assim como nas Forças Armadas das nações. Porém, não existe uma estrutura de comando verticalizada, rígida e piramidal, pois a mesma foi abolida por Mestre Irineu ainda em vida, devido a abuso de autoridade praticada por alguns “superiores hierárquicos”. No imaginário de alguns daimistas o instrumento musical maracá, tocado por todos no ritual de Hinário, é também um instrumento espiritual (técnica arcaica de êxtase) e concebido como uma arma – quando o instrumento vira espada.[346] Dessa maneira, o soldado considera-se composto e armado para travar a batalha do bem, do amor. “Combati o bom combate, completei a carreira, conservei a fé”.[347] Ao término da função religiosa todos disciplinadamente esperam a ordem do dirigente do trabalho: - Fora de forma! Para aí sim, voltarem ao seu cotidiano comum. Dona Percília Matos da Silva ressalta a importância da disciplina e obediência na missão de Raimundo Irineu Serra: Ele não veio mandado? Veio mandado. Armada que fala, é como eu já falei. Nós somos de um batalhão, de um quartel. Quartel divino da sempre Virgem Maria de Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa é que é a Armada.[348] Contextualizando o hino à época do seu recebimento, Luiz Mendes do Nascimento depõe: O Granjeiro explicava para nós, que ele conversando com o Mestre, o Mestre falou para ele que ele também passou os altos e baixos dele. Até no ponto de vista de até querer renunciar este trabalho, se afastar. Aqui e acolá, por força das incompreensões. Então quando saiu Eu Vim da Minha Armada, ele estava numa passagem de descontentamento, e com vontade, assim, de fechar a sessão. Saiu o Hino. Eu vim da minha armada / Trazer fé e amor. Porque a contemplação desta estrofe, aí já é a rainha, dizendo para ele. Ele diz: Eu vim da minha Armada / Trazer fé e amor. Aí ela diz na frente: Não despreza os teus irmãos / Mostra tua luz de amor.[349] Assim, o infinito amor do Velho Juramidam por todos os seus irmãos não lhe deixou esmorecer, e ele continuou a sua batalha, comandando o seu exército. Que sejamos dignos de honrar essa farda e essa bandeira.
Notas: [346] PORTO. Clara Prado Marques. WEIZMANN. Eduardo Sarmet Cunha. QUANDO O INSTRUMENTO VIRA ESPADA. Uma abordagem etnomusicológica do uso do maracá nos cultos do Santo Daime. Disponível em http://br.geocities.com/arcadauniao/2/d.htm Acesso em 27 de abril de 2006.
[347] II Timóteo 4: 7.
[348] Depoimento de Percília Matos da Silva. Disponível em http://www.mestreirineu.org/percilia.htm Acesso em 12 de novembro de 2005.
[349] Depoimento de Luiz Mendes de Nascimento. Disponível em http://www.mestreirineu.org/luiz.htm. Acesso em 20 de abril de 2006.
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