37. Maresia


Maresia, minha vida
Para mim acreditar.
O azul do firmamento
E as estrelas a me guiar

Soberano Pai Eterno
Que me mandou eu cantar
Para eu ter toda firmeza
Para sempre eu vos amar

A minha mãe que me ensinou
Que me mandou eu seguir
Para sempre, amém, Jesus
Para sempre eu ser feliz

Tu não deves esquecer
O amor que recebeu
Quando chegou nesta casa
A verdade conheceu.

 

A maresia, atmosfera marinha, carregada de perfume do mar, que nas regiões costeiras avança sobre o continente como uma brisa - que o Mestre Raimundo Irineu Serra conhecia muito bem desde o Maranhão - é que dá título a este hino.

A recorrência ao mar (profundezas do mar, Canta Praia, Estrela D’Água, Flor das Águas...) é freqüente na cosmologia daimista. “A maresia é porque... Olha, este trabalho tem muita envolvência com o mar. Do mar vem muita força; a força divina vem do mar também. Do céu, da terra e do mar”.[148]

Maresia, minha vida
Para mim acreditar
O azul do firmamento
E as estrelas a me guiar

Navegando sobre as ondas do mar sagrado, Mestre Irineu viajava acompanhado desse forte cheiro do mar, tendo por cima o firmamento com suas constelações de estrelas para orientação astronômica, marítima e espiritual.

No ano de 1957, o Mestre fez uma viagem até o Maranhão, onde passou dois dias e duas noites no mar, mirando muito.[149] Duas décadas antes, em miração lá no longínquo Acre, o Mestre haveria conseguido sentir, apesar de tamanha distância do oceano, a força da natureza naquele perfume do mar, e isso era mais uma comprovação do poder divino do Daime, o que é expresso no hino.[150]

No seu estudo procurando matrizes maranhenses na doutrina do Santo Daime, Labate e Pacheco afirmam “perceber na encantaria maranhense a presença de um rico imaginário ligado a termos como maresia”.[151] Os autores asseveram que este é um termo de uso corrente no Maranhão, e em contexto religioso é usado com freqüência para referir-se metaforicamente à chegada e à presença dos encantados.[152]

Soberano Pai Eterno
Que me mandou eu cantar
Para eu ter toda firmeza
Para sempre eu vos amar



Ainda dentro do imaginário da encantaria maranhense, Labate e Pacheco identificam o uso da noção de firmeza como um atributo chave dos bons curadores, sinônimo de segurança e precisão no cumprimento de sua tarefa.[153]

A minha Mãe que me ensinou
Que me mandou eu seguir
Para sempre, amém Jesus
Para sempre eu ser feliz

Reafirma-se, como em outros tantos hinos, que a Virgem Soberana Mãe, Senhora de todos ensinos, foi quem mandou o nosso Mestre Ensinador seguir com felicidade este caminho, “para sempre, amém Jesus”.

Tu não deves esquecer
O amor que recebeu
Quando chegou nesta casa
A verdade conheceu

E o hino finaliza com a lembrança e o alerta aos alunos dessa escola (casa) espiritual para jamais esquecerem da verdade aqui revelada: o profundo e incondicional amor do Soberano Pai Eterno.

 

Notas:
[148] DEPOIMENTO de Percília Matos da Silva. Disponível em http://www.mestreirineu.org/percilia.htm Acesso em 12 de novembro de 2005.
[149] Depoimento de Percília Matos da Silva disponível em <www.mestreirineu.hpg.com.br> Acesso em 30 março de 2005.
[150] Eduardo Bayer Neto em mensagem ao e-group uniaodosantodaime, março de 2005.
[151] Beatriz Caiuby Labate e Gustavo Pacheco As Matrizes Maranhenses do Santo Daime
[152] Labate e Pacheco, ibidem; encantaria é o culto dos seres encantados., como a pajelança.
[153] Labate e Pacheco, ibidem.

 


mestreirineu.org
 
capa artigos matérias noticias entrevistas recomendacoes sobre
2019 Portal do Santo Daime