27. Seis Horas da Manhã


Seis horas da manhã,
Eu devo cantar
Para receber
A meu Pai Divinal

Ao pino de meio-dia
A luz do resplendor
Eu devo cantar
A meu Pai Criador

Seis horas da tarde
O Sol vai se pôr
Eu devo cantar
A meu Pai Salvador

A Terra é quem gira
Para mostrar
Toda a criação
A meu Pai Divinal

 

Descendentes dos Incas e Maias, remontando ao culto mais puro dos seus longínquos antepassados, ao venerarem o Sol, o objetivo mais elevado era a adoração da Luz. A Luz, o deus-Sol também dos egípcios, pois neste mundo denso de matéria era a luz o que mais se aproximava de Deus.

A luz é o elemento mais sutil e abstrato que o homem pode conceber com os seus cinco sentidos. É a substância mais etérea que a ciência pode estudar; no livro do Gênese, o primeiro elemento (ou segundo) foi a luz, sem a qual nada podia ser criado. “O Espírito de Deus pairava sobre as águas” escrevia Moisés, educado no Egito, “e disse o Senhor Deus: seja feita a Luz, e a Luz se fez”.[104]

Também é o símbolo perfeito da luz celestial que desponta no intimo da alma, quando o homem entrega a Deus seu coração e sua mente; é um magnífico monumento erigido a essa divina iluminação que o guarda em segredo nos momentos de maior desespero; quando o homem, instintivamente, voltando a face à presença do sol, volta ao corpo do seu Criador.[105]

Platão, 400 anos antes de Cristo, dizia que "o sol é o filho do Bem...” O sol, ocupa no mundo sensível (ou material), um lugar análogo ao ocupado pelo bem no mundo inteligível (ou espiritual). O bem platônico corresponde ao Criador e máximo Soberano do universo.

Assim como o Sol é a fonte da luz e calor (força, vida) para o nosso planeta e seus habitantes, assim também Deus é a fonte da Força e da Luz que alimentam o nosso espírito.[106] O sol é agente da luz. Do sol nasce a luz e se derrama sobre nós.[107]

Essa cultura religiosa de ritos andinos de adoração do Sol e da Lua [108], é herdada por indígenas brasileiros, e está presente neste hinário. Esse hino preserva também uma tradição dos antigos, de quando não existia a separação entre as formas de conhecimento, quer seja religioso, filosófico ou científico[109]. Nesse sentido, louva-se a Deus transmitindo conhecimentos astronômicos, científicos:

A Terra é quem gira
Para mostrar
Toda a criação
A meu Pai Divinal

É o Mestre Irineu - que já tinha ensinado os caboclos simples da Amazônia a meditarem, muito antes da expansão das técnicas de yoga aqui no ocidente - ensinando noções científicas elementares ao seu povo.

O hino marca com precisão as horas do Angelus Domini, que são as tradicionais horas de oração (06:00, 12:00 e 18:00) dentro das práticas de louvor à Virgem Maria, Imaculada Conceição, como registrado desde 1318, quando o Papa João XXII aprovou o costume [110]. Essas três significativas horas do dia eram as horas onde habitualmente Irineu Serra se recolhia em orações, seja no meio do roçado ou onde quer que ele estivesse.[111]

O Divino Pai Eterno está aí simbolizado pelo Sol, Astro Rei, Deus Sol, dentro da tradição ameríndia, no que a história das religiões encontra referências bem mais antigas, no Egito Antigo.

 

Notas:
[104] GÊNESIS 1:2-3
[105] BRUNTON, Paul. Um eremita no Himalaia. São Paulo: Pensamento, s/d.
[106] LUCEA, Alceo. E-mail.
[107] BRUNTON, Paul. Um eremita no Himalaia. São Paulo: Pensamento, s/d.
[108] BAYER NETO, Eduardo. A relíquia do Yagé.
[109] Separação inaugurada com o renascimento e o surgimento do positivismo.
[110] TEIXEIRA de FREITAS. O Mensageiro.
[111] Informação transmitida por Daniel Arcelino Serra.

 


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