Se eu soubesse eu não tinha nascido
Para hoje eu andar sofrendo
A Piedade me disse
Que que tu andas fazendo?
Sinos que tangem com mágoas doridas
Recordando o sonho da aurora da vida
Mil aventura e suave alegria
Em minh´alma o som da Ave Maria.
Me sentei recostei sobre as mãos
Logo me pus a pensar
Abandonei meus direitos
Joguei nas ondas do mar.
Sinos que tangem com mágoas doridas
Recordando o sonho d´aurora da vida
Mil aventura e suave alegria
Em minh´alma o som da Ave Maria
Banhando-me em águas brancas
Por não ouvir o que disseram
Não foi falta de conselho
Que meus amigos me deram
Sinos que tangem com mágoas doridas
Recordando o sonho da aurora da vida
Mil aventura e suave alegria
Em minh´alma o som da Ave Maria
Meu Deus me perdoai-me
O que que eu vou fazer?
Vivo cumprindo esta sina
Só deixo quando eu morrer
Sinos que tangem com mágoas doridas
Recordando o sonho da aurora da vida
Mil aventura e suave alegria
Em minh´alma o som da Ave Maria
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O conselheiro José Francisco das Neves Júnior, o seo José das Neves, nascido em 1908, acreano do município de Xapuri e padeiro de profissão, foi amigo e discípulo de primeira hora do Mestre Raimundo Irineu Serra. Para se ter idéia da importância do seu Zé das Neves para a doutrina do Santo Daime basta lembrar que é o seu jazigo que, ao lado do sepulcro do seu Leôncio Gomes, têm o privilégio de ladear o túmulo e mausoléu do Mestre, no solo sagrado do Alto Santo.
José das Neves começou a acompanhar Mestre Irineu em sua missão no dia 26 de maio de 1930 e, segundo suas próprias palavras, “trabalhamos juntos até o seu falecimento, 41 anos e 41 dias, exatamente”.[1][1] Próspero comerciante, não se furtava a sempre ajudar a irmandade reunida por Irineu Serra lá nas terras do antigo Alto da Santa Cruz.
Do casamento de José das Neves com Cecília Gomes, a simpática Dona Preta, nasceu Paulo Serra, assim batizado em homenagem ao tio de Mestre Irineu, aquele que o criou como um verdadeiro pai, lá em São Vicente Férrer, no Maranhão. Quando a terceira esposa de Irineu Serra, a dona Raimunda, muda para São Paulo com a mãe, abandonando o seu marido, é dona Percília Matos quem passa a cuidar da criação dos filhos adotivos do Mestre, Paulo e Marta,[2][2] esta adotada civilmente.
José das Neves teve três esposas, dona Francisca, dona Preta e, por último, dona Ester, com a qual viveu mais de 40 anos, até a sua passagem para o mundo espiritual.
Se eu soubesse eu não tinha nascido
Para hoje eu andar sofrendo
A Piedade me disse
Que que tu andas fazendo?
A história dessa pungente valsa está relacionada a primeira esposa do seu José das Neves, de nome Francisca. Esta senhora abandonou o seu marido e, contam, logo após isso, começou a levar uma grande “peia” da vida, passando toda sorte de atribulações e sofrimentos.
Já desencarnada, ela aparece em espírito ao Mestre Raimundo Irineu Serra e – chorosa e lamentosa - canta este hino para ele.[3][3] Este é um comovente lamento. A triste mensagem transmitida é de arrependimento por ter nascido e estar sofrendo por ter cometido um grande erro. A própria Mãe Divina, a Mãe de Piedade a tinha alertado para tal impetuoso ato: “A Piedade me disse, que que tu andas fazendo?”
Dona Francisca percebe que não reconhecia ou valorizava o estado de felicidade em que vivia: “banhando-me em águas brancas” e, “por não ouvir o que disseram” jogou fora os seus direitos de mulher honesta e casada; reconhece que fez isso porque quis, pois não faltaram conselhos dos amigos para demovê-la da idéia de jogar fora a sua vida estável, ao lado do seu marido: “joguei nas ondas do mar”. Agora a lei do carma[4][4] a atinge, pede perdão a Deus, mas diz que vai cumprir a sua sina até o final da vida, nesta ou em outra encarnação.
O Mestre Irineu, surpreendentemente, coloca essa triste e comovente valsa entre as suas “diversões”, um pequeno conjunto de canções infantis (“Pra pilar”, “Cachiado”); amorosas (“Cantar me apareceu”) e de instrução moral (“Devo acochar o nó”). As diversões são cantados no intervalo dos hinários para um divertimento, uma brincadeira, porém, entre elas, se destaca essa valsa pela sua encantadora beleza.
Sinos que tangem com mágoas doridas
Recordando o sonho da aurora da vida
Mil aventura e suave alegria
Em minh´alma o som da Ave Maria.
Uma outra surpresa neste hino é que ele contém citação a uma música popular brasileira composta por Erothides de Campos, chamada “Ave Maria”. Do gênero valsa-serenata, é considerada a primeira "Ave Maria" a fazer sucesso na era do rádio que surgia.
Paulista de Cabreúva, Erothides de Campos passou a maior parte da vida em Piracicaba, compondo e tocando vários instrumentos e tinha como profissão ser professor de física e química na Escola Normal Sud Mennucci. “De sobrenome Neves pelo lado materno, ele usava o pseudônimo Jonas Neves quando fazia letras, como é o caso desta canção, que muitos pensam ser de duas pessoas”.[5][5]
"Composta em 1924 e lançada em disco em 1926, por Pedro Celestino, "Ave Maria" somente ganhou sua gravação ideal em 1939, quando Augusto Calheiros soube valorizar o clima de nostalgia e misticismo romântico que marca a composição. Uma prova do sucesso nacional de "Ave Maria" é a valsa "Cheia de Graça", escrita em Recife, no final dos anos vinte, por Nelson Ferreira e Eustórgio Wanderley, em homenagem a Erotides de Campos. O curioso em "Cheia de Graça" é que a canção repete as notas iniciais da "Ave Maria", só que em escala descendente, ao contrário do original".
Assim, ficamos sabendo que a canção do Erothides de Campos tem pelo menos duas importantes citações, uma delas vinda do plano Astral. A seguir, letra e cifra da valsa-serenata:
Ave Maria
----------Bm ------Gb7----- Bm------- Em---- B7------ Em Cai a tarde tristonha e serena, em macio e suave langor ----------G7-------- Em----- Bm------- A7------ G7------ Gb7 Despertando no meu coração a saudade do primeiro amor! ----------Bm-------- Gb7------- Bm B7 ---------Em ----B7----- Em Um gemido se esvai lá no espaço, ----nesta hora de lenta agonia --------------G7 ------Em------ Bm ------A7------- Gb7 ----Bm Quando o sino saudoso murmura badaladas da “Ave-Maria”!
-------------A7------------------- D------------------ A7 -------------------D Sino que tange com mágoa dorida, recordando sonhos da aurora da vida -------------------B7 --------------G7 -----Em-- Bm--- Gb7 --Bm Gb7 Dai-me ao coração paz e harmonia, na prece da “Ave Maria”!
Cai a tarde tristonha . . .. (repetir a 1a. Estrofe)
--------B--- Gb7----- B----------- G7----- Gb7------ Bm No alto do campanário uma cruz simboliza o passado -------------B7------------ Em ------------------Bm----- Gb7--- Bm De um amor que já morreu, deixando um coração amargurado -------B---- Gb7----- B -----------G7----- Gb7--- Bm Lá no infinito azulado uma estrela formosa irradia -----------B7--------------- Em ------G7--- Em-- Bm ---Gb7-- Bm (Bm) A mensagem do meu passado quando o sino tange “Ave Maria”
Erothides de Campos (1924)
Entrevista com o Sr. José das Neves. Reportagem publicada no jornal Varadouro, com circulação em Rio Branco, AC, em Abril de 1981. Diponível em http://www.mestreirineu.org/jose.htm. Acesso em 19 maio 2007.
MPB CIFRANTIGA. Disponível em http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/03/ave-maria_30.html Acesso em 17 maio 2007.
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