9. Mãe Celestial

Eu peço e rogo
Oh! Mãe celestial
Que tudo enquanto eu tenho
É vós é quem me dá
Oh! Mãe celestial!

Eu peço e rogo
Ao Pai celestial
Que tudo enquanto eu tenho
É vós é quem me dá
Oh! Pai celestial!

Eu peço e rogo
Oh! Mãe celestial
Que me dê a salvação
E me bote em bom lugar
Oh! Mãe celestial!

 

As escrituras da Índia ensinam que Deus é tanto pessoal quanto impessoal. Do mesmo modo, os hindus percebem Deus tanto como Ser imanente quanto transcendente. Ele pode ser buscado como o Absoluto ou numa de suas qualidades manifestadas.

Na doutrina do Santo Daime o Altíssimo também contém esses múltiplos aspectos, pois Ele se revela para o devoto tanto no ?sol lá nas Alturas?, como ?na lua e nas estrelas, na terra e no mar?.[64]

Aqui no Ocidente, nós procuramos a Deus, tradicionalmente, em Seu aspecto de Pai. Já na Índia, a idéia de Deus como compassiva e amorosa Mãe do universo encontra ampla aceitação.[65]

Na doutrina de Juramidam, Deus - o Criador, o Soberano, o Supremo, o Altíssimo, o Eterno, a Paz, o Fiel, o Onipotente, o Onisciente, o Juiz, a Verdade ? e seus mais de 4000 mil nomes,[66] parece se apresentar sem a hierarquia masculino/feminino comum à cultura e religiosidade ocidental. Ele mais se assemelha ao binômio Pai/Mãe -[67] e assim, à totalidade. 

São inúmeros os hinos d?O Cruzeiro Universal em que a Mãe Celeste ? a Divina, a Rainha, a Advogada, a Protetora, Nossa Senhora, Mãe de Deus, Virgem da Conceição ? e seus infinitos nomes é evocada em primeiro lugar, não parecendo haver uma supremacia patriarcal na Corte Celestial.

E até a aparente hierarquia dos dizeres de encerramento dos trabalhos daimistas: ?Em nome de Deus Pai / da Virgem Soberana Mãe?... de fato é a reafirmação da polaridade Pai/Mãe, pois o terceiro Ser enunciado é o Filho (...De Jesus Cristo Redentor..), formando assim a União na Sagrada Família - que a evocação ao Patriarca São José, a seguir, vem consagrar.

?Eu e o Pai somos Um?.[68] A identificação absoluta com o Onipresente significa que o Cristo conquistou sua liberdade definitiva antes mesmo de nascer como Jesus: ?antes que Abraão existisse eu sou?.[69]

Quando uma alma rompe o casulo dos três corpos (físico, astral e causal),[70] escapa para sempre da lei da relatividade, e torna-se o ?inefável Sempre-Existente?.[71] ?A quem vencer, concederei que se assente comigo em meu trono, assim como eu venci e me sentei com meu Pai em Seu trono?.[72]

Os ensinos de Yogananda nos dizem que em três etapas do passado de Jesus, simbolizadas em sua vida na Terra pelos três dias que passou pela morte e ressurreição, ele alcançara o poder de ascender plenamente no Espírito,[73] sendo uma alma liberta de todas ilusões corporais, unificado com o Infinito sem qualquer perda de individualidade. ?... Ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar?.[74]

Foi dessa maneira que Ele desceu à Terra para se sujeitar à morte[75] pela crucificação para redimir os pecados do mundo,[76] isto é, transferir para si as conseqüências do carma alheio, especialmente o de seus discípulos, que foram altamente purificados, tornando-se aptos a receber o Espírito Santo que mais tarde desceu sobre eles.[77]

O Mistério da Santíssima Trindade, lembrado no hino nº 21 de João Pereira (Pai, Filho da Virgem Mãe amantíssima / do Divino Espírito Santo) adquire, na doutrina do Santo Daime, uma ressignificação frente à matriz católica, quando é incluído o componente feminino no dogma cristão de Deus Uno e Trino.

Dessa forma, a doutrina daimista, que é o culto à Virgem da Conceição, reúne elementos cosmológicos semelhantes tanto à adoração à Mãe Divina hinduísta, quanto ao culto pré-cristão à Grande Mãe, presente em muitas civilizações, inclusive ameríndias. 

Este hino, quando cantado na Santa Missa, sofre inversão da letra, com alteração da pessoa verbal e não do tempo verbal. 

Enquanto n?O Cruzeiro Universal canta?se

Eu peço e rogo, oh Mãe Celestial
Que me dê a salvação
E me bote em bom lugar

na versão para a Santa Missa canta?se

Eu peço e rogo, oh Mãe Celestial
Que te dê a salvação
E te bote em bom lugar

Suplicando a misericórdia divina para os irmãos que já saíram do ?mundo do pecado?.


 

Notas:
[64] Hino nº 15; a doutrina do Santo Daime segue assim a tradição ameríndia de sacralização da natureza, seus mistérios e significados.
[65] YOGANANDA, Paramahansa. Onde existe luz. Rio de Janeiro: Lótus do Saber, 2001, p.14-15.
[66] Segundo a teologia mulçumana e de outras tradições, como a judaica.
[67] ?Eu quero ser, filho do meu Pai, da minha Mãe com meus irmãos...?; hino nº 15.
[68] João 10:30.
[69] João 8:58.
[70] Corpo físico, perispírito e espírito.
[71] YOGANANDA, Paramahansa. Autobiografia de um Iogue. Rio de Janeiro: Lótus do Saber, 2001, p. 460.
[72] Apocalipse 3:21; ?Contemple a borboleta da Onipresença, as asas insculpidas com estrelas, sóis e luas! A alma expandida no Espírito paira sozinha na região da escuridão luminosa, da luminosidade sem luz, do pensamento além do pensamento, inebriada com seu êxtase de alegria no sonho divino da criação cósmica?. In: YOGANANDA, 2001, op. cit., p. 461.
[73] YOGANANDA, 2001, op. cit., p. 461.
[74] Mateus 11:27.
[75] ?Pensas tu que eu não poderia rogar a meu Pai, e que ele não me mandaria agora mesmo mais de doze legiões de anjos?? (Mateus 26:53).
[76] "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido". (Lucas 19:10).
[77] Atos  2: 1-4.

 


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