Papai do Céu, do coração
Que hoje neste dia
É quem dá o nosso pão
Graças a Mamãe!
Mamãe do Céu, do coração
Que hoje neste dia
É quem dá o nosso pão
Louvado seja Deus!
Apesar da grande presença dos cultos africanos no Maranhão, alguns indivíduos da comunidade negra observaram sempre estreita fidelidade à Igreja Católica, e este foi o caso da família de Raimundo Irineu Serra, notadamente sua mãe e irmãos. Diante da formação religiosa do futuro mestre, a comunhão ritual do daime pode-se comparar desde o primeiro momento à comunhão católica com a hóstia.
O pão que desce do céu é de tal sorte que aquele que dele comer não morrerá. Eu sou o pão vivo que desce do céu. Quem comer deste pão viverá para a eternidade. E o pão que eu darei é minha carne, dada para que o mundo tenha a vida.[37]
Cânticos católicos saúdam o momento de eucaristia como a comunhão do pão divino, e o cântico de Irineu Serra na comunhão do Daime saúda e agradece o Pai e a Mãe do Céu por esse mesmo pão.[38]
Esse hino, ?Refeição?, é o primeiro hino do Mestre que, recebido, tem orientação precisa: ao invés de ser cantado em serviços espirituais (à época ainda não existiam serviços bailados)[39], é um hino para ser cantado antes e depois das refeições.
Refeição é um hino que não é da linha. É um hino só de agradecimento a Deus pelo que se recebe. Antes da refeição a gente diz, é quem dá o nosso pão. Depois da refeição, a gente diz, foi quem deu o nosso pão. Antes é quem dá e depois é quem deu. O Mestre recomendava que todo mundo cantasse esse hino na hora da refeição[40]
É cantado com tempos verbais invertidos: se antes das refeições se canta
Papai do Céu, do coração
Que hoje neste dia
É quem dá o nosso pão
Graças a Mamãe!
depois das refeições ele é cantado no tempo pretérito:
Papai do Céu, do coração,
Que hoje neste dia
Foi quem deu o nosso pão
Graças a Mamãe!
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