Artigo de Armênio Celso de Araújo



Teodicéia Brasileira: Uma Breve História do Santo Daime

 

Migração: esperança e desilusão

Em finais do século XIX levas de nordestinos, fugindo das secas e aspérrimas condições de vida, rumam em destino às selvas amazônicas. Um novo “eldorado” começa a se insinuar no imaginário destes homens simples e castigados pela vida, a promessa de riqueza na extração da borracha inspira milhares de indivíduos a abandonarem suas raízes. Alguns sozinhos, outros arrastando a família, seguem em busca do “ouro branco” da seringa. São maranhenses, piauienses, paraibanos, cearenses, pernambucanos, baianos…

Tornam-se os pioneiros de uma epopéia contemporânea, satisfazem a dupla necessidade governamental de extrair a riqueza da matas, atendendo ao mercado internacional de borracha – então o Brasil era o afortunado senhor da Hevea brasiliensis –, e ocupar a floresta virgem num projeto de integração nacional. A borracha favoreceu uma série de financiamentos dos grupos internacionais, o recrutamento de mão-de-obra formou um verdadeiro êxodo orientado.

A seca de 1877, uma das mais cruéis já registradas, foi responsável pelo intumescimento dos centros urbanos do nordeste, notadamente Fortaleza e São Luis. A crise na produção algodoeira somada às vicissitudes climáticas tornava essa população uma sobrecarga, o gado minguava, não era mais possível para um fazendeiro absorver a população. As capitais cearense e maranhense tornavam-se, então, ponto de destino para os desamparados da sorte, de lá saíam os barcos rumo a Amazônia. Estima-se que 25.000 a 50.000 novos seringueiros seguiram para a Amazônia em cada década deste primeiro momento da extração da borracha. (Franco, 2002: 202)

Em Belém e Manaus as casas aviadoras, responsáveis pela exportação da borracha e vinculadas ao capital estrangeiro, conduziam os imigrantes para os seringais. Aí tinham início outros percalços, longe de casa esses novos seringueiros viam-se sujeitos a uma outra sorte de exploração: eram debitados os gastos da viagem e subsistência; os Regatões – comerciantes que transitavam pelos rios amazônicos negociando bens de primeira necessidade – “iniciavam suas transações com um gole de cachaça e com ela prosseguiam até confundir a mente do infeliz caboclo, sempre se deixando negociar” (Barros citado por Sena Araújo, 1999:34). Os patrões, donos ou arrendatários dos seringais, submetiam os seringueiros a um monopólio comercial, certamente absoluto, sobre a produção da borracha, além disso os seringueiros precisavam pagar uma renda anual, em borracha, pelo usos dos caminhos abertos na mata acompanhando as seringueiras nativas, as “estradas de seringa”. No seringal, que possuía um fluxo econômico considerável, o trabalhador estava sujeito ao barracão, fartamente abastecido, onde comprava suas ferramentas e suprimentos.(Franco, op. cit.)

Entre 1872 e 1929, a população amazônica sofre uma explosão demográfica aumentando sua população de 330 mil pessoas para 1 milhão e 400 mil (Monteiro da silva, 2002: 371) das mais variadas regiões. O Acre era o principal destino destas levas migratórias, mormente de maranhenses, que levam para o extremo ocidente do Brasil, além do anseio de uma vida melhor, todo um panteão cosmológico e cultural que marcaria profundamente as manifestações culturais da Amazônia. O catolicismo popular e os cultos de origem africana penetram no mesmo processo de migração nas selvas amazônicas encontrando-se com as crendices e práticas indígenas.

Contudo, esse contato com as populações nativas da floresta é marcado por um violento choque cultural. A formação dos seringais demandava conflito com as populações indígenas. A mando de seus patrões, os nordestinos foram responsáveis por grandes chacinas, as chamadas “correrias” (1), “expedições que expulsavam os nativos de suas terras de forma cruel e dolorosa, através de assassinatos” (Sena Araújo, op. cit.). Entretanto isso possibilitou um significativa troca cultural entre nordestinos e indígenas.

Em 1912, com a produção de borracha no Oriente – um navio inglês no início do século vinte saiu de Manaus com uma carga de sementes da Hevea brasiliensis e iniciou seu cultivo na Malásia – há um colapso na extração da borracha brasileira, porém não se verifica um abandono dos seringais, mas uma diversificação das atividades (Franco op. cit. p. 204). O próprio fluxo migratório, mesmo diminuindo, não se extinguiu, grupos de emigrantes continuam partindo dos portos das capitais nordestinas em busca de melhorias de vida.

Por essa época um jovem maranhenses, de vinte anos, nascido na pequenina São Vicente Ferrer, em 15 de dezembro de 1890, dirige-se para os seringais acreanos, com o mesmo sonho de seus conterrâneos. Chamava-se, como tantos outros, Raimundo, Raimundo Irineu Serra (2). Porém, Irineu Serra destacar-se-ia dos demais nordestinos por fundamentar em torno de si uma doutrina religiosa, sacramentada no uso da bebida indígena ayahuasca (3). Arrebanhando devotos, que o tinham na conta de verdadeira santidade, começa a ganhar fama de curador e milagreiro – numa região longínqua e carente de recursos os curadores e rezadores faziam as vezes de médicos (4). O Santo Daíme, nome pelo qual passa a chamar a ayahuasca e o movimento religioso criado por ele tornar-se-ia, então, uma das mais significativas expressões culturais da Amazônia.

Raimundo Irineu Serra, um negro de 2 metros de altura, neto de escravos, chegou à Amazônia exatamente em uma época capital para a história do Acre, entre os dois mais importantes ciclos de extração da borracha (1860-1915 e 1942-1945). Conta-se que Irineu Serra teria deixado sua terra natal por influência de um tio que o aconselhara a dar uma volta no mundo, quando este soube da notícia que o sobrinho pretendia casar:



Aos 15 anos, o Mestre pensava em casar. Ele tinha uma pretendente. Era sua prima. Ela era um tipo de mulherona. Era tão forte, ele dizia, que parecia que a terra tremia, quando ela andava. "Oh! Tipo de mulher bonita. Vou me casar com essa mulher". Aí a mãe dele, Dª. Joana, ficou sabendo que ele tinha um "quê" com ela. Ela chamou atenção dele:

- Olha, você está querendo casar, namorando a sua prima. Mas deixe isso de mão, porque você é novo e ela nem moça é mais. O povo já fala dela.

- Mamãe, se ela for moça, eu caso com ela. Se não for, eu não caso.

Depois ele se arrependeu dessa má criação que fez com sua mãe.

E contou a história pro tio, a quem ele tinha muita obediência. Seu nome era Paulo. Desde essa época eles tratavam o Mestre com respeito. O tio disse:

- Raimundo, no sábado estou com vontade de fazer uma farinha. Você me ajuda a arrancar a macaxeira?

- Ajudo, sim senhor.

No sábado eles estavam no roçado trabalhando, quando seu tio perguntou:

- Raimundo, você está com vontade de casar?

Ele disse que pensou: "Mamãe foi logo contando essa história pro meu tio. Vou abrir um pau por aqui".

- Tô, meu tio. Por que?

- Por nada. É bom. Porque você se casa tão cedo, tem logo família. O homem pra ser bom mesmo tem que ter uma mulher do lado. Sabe, Raimundo, o homem para se casar, deve primeiro dar uma volta no mundo. Quando volta, já sabe quanto custa 1 kg de sal, quanto custa 1 kg de açúcar, já sabe quanto custa uma anágua para a mulher. Aí já dá para o homem casar...

Foi então que, no dia seguinte, ele viu um navio alistando gente para ir para o Amazonas. Chegou lá, sem dizer nada para sua mãe. Nessa época ele trabalhava no gado e ganhava 500 mil réis por dia. Quando foi pedir a conta pro patrão, o homem disse:

- Eu te dou, mas vou te esperar aqui. Você vai ganhar seus 500 mil réis aqui comigo.

- Nunca mais pisarei aqui, respondeu.
(5)


Em 1909 Raimundo Irineu dirige-se a São Luís onde permanece até 1910. Segundo alguns trabalha como diarista e estivador, chega a servir o exército e incorporar a tripulação de um navio. Saindo da capital maranhense Irineu fez o costumeiro itinerário da borracha, indo para Belém, trabalha com jardineiro e consegue dinheiro suficiente para seguir viagem até Manaus. Depois parte em direção ao Acre, passa rapidamente por Rio Branco e ruma para a cidade de Brazílea (Brasiléia) (Maia Neto, op. cit.) cidade com uma grande colônia de maranhenses, a mais ou menos 250 km da capital acreana, na fronteira com a Bolívia.

Mistérios da Floresta: Iniciação

Há algumas variações na tradição oral sobre esse período da vida de Irineu Serra, porém é corrente a versão de que teria sido entre 1914 e 1917 o período de seu toque iniciático nos mistérios da ayahuasca em plena fronteira com o Peru (Sena Araújo, op. cit.).

A figura do xamã nas culturas indígenas amazônicas é de significativa importância na organização social desses grupos, é ele o responsável pela comunicação com o mundo sobrenatural, universo ao qual estão ligadas as concepções de doença e saúde. Estas práticas permaneciam no início do século XX, bem como nos dias atuais, porém submetidas a alterações e novas influências. “Entre os curandeiros mestiços, ou vegetalistas, como são conhecidos, eles ainda mantém elementos dos antigos conhecimentos indígenas sobre plantas e sua relação com o mundo espiritual”(MacRae, op. cit.). A ayahuasca é planta-mestra por excelência destes curadores mestiços (Mabit, 2002: 145), é ela o professor vegetal mais importante. Tem-se, entre esses grupos, a certeza de que através de oasca é possível alcançar o espírito das plantas e seus poderes curadores (MacRae, op. cit.). É nesse contexto que Irineu Serra tem contato com a bebida.

Isso ele foi buscar longe, veio do Peru. Na história esta bebida derivou do Rei Huascar, passou para o Rei Inca, deste para um caboclo peruano chamado Pizango, do caboclo para Antônio Costa, de Antônio Costa para o Mestre Irineu. Porém, até aí era uma bebida totalmente bruta. Só homens tinham o direito de tomar. Ele procurou especializá-la, e se dedicou realmente. Ele sujeitou-se a um regime... Lá então, ele firmou, falando com a própria bebida: "Se tu fores uma bebida que venha a dar nome ao meu Brasil, eu te levo para o Brasil, mas se for desmoralizar o meu Brasil, eu te deixo aqui mesmo". Ele não cansava de relatar isso a gente. (6)

As tradições e práticas xamânicas são encontradas em várias partes do mundo nos mais variados contextos, a iniciação de um novo xamã pode ocorrer com um chamado num sonho ou visão, ou então escolhido por um xamã mais velho que lhe transmite seus segredos. No caso amazônico, como a cultura dos vegetalista não se identifica com nenhum grupo específico, sendo nas mais das vezes objeto de temores e preconceitos por parte da comunidade, “sua iniciação é uma questão de escolha pessoal ou de vocação”(MacRae, op. cit.).

Através de sua amizade com os irmãos Antônio Costa e André Costa, também negros e conterrâneos de São Vicente Ferré, exercendo ainda o ofício de seringueiro, Irineu Serra passou por essa iniciação xamânica. Conta-se que Antônio Costa teria convidado Irineu para conhecer uma bebida pela qual invocava-se o diabo, Irineu que andava meio desgostoso com Deus resolve experimentar a bebida:



Nesse período foi que ele conheceu a ayahuasca, num seringal próximo ao Peru, com um companheiro. Seu nome era Antônio Costa. Ficaram morando juntos. Antônio Costa não era seringueiro. Explorava um negócio de regatão, comprava e vendia borracha. Ele lhe deu a notícia sobre uns caboclos no Peru, que bebiam a ayahuasca. Só que lá, o pessoal que tomava essa bebida tinha um pacto satânico, para trazer fortuna e facilitar a vida de cada um. O Mestre, até então, tinha procurado sempre por Deus, mas Deus tinha dado tão pouco a ele, naquela luta danada para sobreviver. Resolveu experimentar a bebida e foi até lá...

Tomou a bebida e quando os outros começaram a trabalhar, botaram a boca no mundo, chamando o demônio. Ele também começou a chamar. Só que na proporção que ele chamava o demônio, eram cruzes que iam aparecendo. Ele se sentiu sufocado de tanta cruz que apareceu. O Mestre começou a analisar: "O diabo tem medo da cruz e na medida que eu chamo por ele, aparecem as cruzes. Tem coisa aí..." Ele pediu para ver uma série de coisas. Tudo que ele queria, ele pôde ver. Isso o impressionou bastante. E assim foi a primeira vez... Ele contou a história para o Antônio Costa e este disse que conhecia o material que eles preparavam a bebida.

- Bem aqui perto tem!

Antônio Costa lhe mostrou a folha e o cipó.

- Como é que faz? – perguntou o Mestre.

- A gente esbagaça o cipó, junta com a folha, cozinha e depois toma
. (7)



Outra versão fala que Costa teria levado Irineu para conhecer um xamã peruano, um vegetalista chamado Crecencio Pizango, este curandeiro teria reconhecido em Irineu poderes para trabalhar com a bebida sagrada:



Após dar baixa na polícia, ele voltou à seringa. Foi quando se encontrou com Antônio Costa e conheceu a ayahuasca.

O Mestre foi convidado por Antônio Costa a conhecer um caboclo de nome Pizango, que era um caboclo peruano, descendente dos Incas. Era com ele que Antônio Costa tomava Daime.

Era Pizango, por assim dizer, um caboclo que sabia aonde as andorinhas moravam. Quando eles tomaram o Daime – eram aproximadamente doze pessoas, e estavam mirando, o caboclo aproximou-se. Só quem viu foi Raimundo Irineu Serra. Veio dar a entender que o Mestre era o único que estava em condições de trabalhar com a bebida. Na altura do trabalho, Pizango veio e entrou dentro da cuia que estava servindo o Daime. Naquele tempo se tomava Daime na cuia grande. O caboclo Pizango vira-se para Irineu e diz para ele convidar os companheiros a olhar dentro da cuia e perguntar se estavam vendo alguma coisa. A resposta foi: Não! Eles olhavam e diziam que só viam o Daime. Aí Pizango falou:

- Só usted tem condições de trabalhar com o Daime. Ninguém mais está vendo o que tu está vendo.

Ele se deslocou dali para a casinha que defuma a borracha - o defumador, pedindo para alguém levar um "vaso" - a vasilha com o Daime, para lá. O Mestre chamou um dos seus companheiros. Foi André Costa que levou o "vaso". Quando o trabalho terminou, só encontraram a vasilha seca. O Daime tinha sido consumido. (8)

Nesta fase de iniciação ocorre o episódio mais importante na vida de Irineu e de toda a cosmologia do Santo Daime, a epifania vivida por ele e testemunhada por Antônio Costa. Envolvida em um halo de lenda, próprio dos grandes mártires cristãos, esta história é capaz de constar em qualquer hagiológio, Irineu tem um contato com sua guia espiritual, a “professora” que o ensinaria por toda a vida: a Virgem da Conceição. Teria sido essa entidade espiritual a responsável pelas instrução em seus processo iniciático, após o qual estaria Irineu gabaritado a trabalhar como curador.

Aí Antônio Costa viajou. O Mestre ficou. Na ansiedade de tomar o Daime, ele resolveu preparar. Fez como Antônio Costa tinha dito. Pegou o cipó, preparou, juntou a folha, e cozinhou. Quando foi tomar, ele teve um receio. E resolveu não tomar sozinho. "Melhor esperar pelo Antônio Costa", pensou.

Quando ele chegou, o Mestre lhe ofereceu a bebida. Os dois tomaram e Antônio Costa ficou na sala e o Mestre lá dentro, no quarto. Quando começaram a mirar, Antônio Costa lhe disse:

- Tem uma senhora conversando comigo e ela me falou que foi sua companheira desde que você saiu do Maranhão. Ela te acompanhou até aqui.

O Mestre não entendeu, porque ele tinha viajado sozinho e perguntou:

- Como é o nome dela?

- Ela está dizendo que se chama Clara. Tu te prepare, pois ela mesma vem conversar contigo.

Terminando o trabalho, ele ficou ansioso para tomar outra vez e encontrar-se com ela. Na próxima vez, depois de tomar o Daime, ele armou a rede de modo que a vista dava acesso para a lua. Parece que estava cheia, ou quase cheia. Era uma noite clara, muito bonita. E quando ele começou a mirar muito, deu vontade de olhar para a lua. Quando olhou, ela veio se aproximando, até ficar bem perto dele, na altura do teto da casa. E ficou parada. Dentro da lua, uma senhora sentada numa poltrona, muito formosa e bela. Era tão visível, que definia tudo, até as sobrancelhas, nos mínimos detalhes. Ela falou pra ele:

- Tu tem coragem de me chamar de Satanás?

- Ave Maria, minha senhora, de jeito nenhum!

- Você acha que alguém já viu o que você está vendo agora?

Aí ele vacilou, pensando que estava vendo o que os outros já tinham visto.

- Você está enganado. O que estás vendo ninguém nunca viu. Só tu. Agora me diz: quem você acha que eu sou?

Diante daquela luz, ele disse:

- Vós sois a Deusa Universal!

- Muito bem. Agora você vai se submeter a uma dieta. Para tu poder receber o que eu tenho para te dar.

A dieta era passar oito dias comendo macaxeira insossa e água.

O Mestre se submeteu à dieta e passou oito dias cozinhando e comendo macaxeira insossa.

Ele continuou a trabalhar na seringa. A história do Mestre, no início dos seus trabalhos com o Daime, se centraliza com Antônio Costa. Eles eram tão amigos, que a Rainha, ao repassar o poderio para o Mestre, com a mesma medida passou também para Antônio Costa. Era como se o Mestre fosse governar uma metade do mundo, e ele, a outra metade. Só que Antônio Costa viu que para ele não daria. Ele era comerciante e por isso foi impossível realizar o negócio. Por isso, ele pediu à Rainha (ele também se comunicava com ela) que o que era para ser dele, ela repassasse para o Mestre Irineu.

O Mestre tomou Daime só no primeiro dia da dieta. Quando se passaram três dias, já estava mirando continuadamente. Era tanta coisa que chegou a recear. Com sua espingarda, ele dava tiros para o alto, no meio da floresta. Alguns dizem ter sido esta a origem da queima de fogos durante o trabalho. O estampido dos tiros o confortava... Foram muitas provações. Os paus criavam vida. As aparições lhe perturbavam. Ele chegou a ver uma saia de mulher, embora na colocação não houvesse mulher. Chegou a ter contato direto com os animais. Os animais se achegavam bem perto dele. Foi como Cristo no deserto e seus quarenta dias de provação. Para o Mestre já foi mais fácil, pois ele tinha a sua macaxeira. Um dia ele estava na volta de uma estrada de seringa quando o Antônio Costa em casa disse: "Eu vou já experimentar o Irineu pra ver se ele está aprendendo, vou colocar sal na macaxeira dele". Pegou na coité de sal, trouxe só ate a boca da panela, mas não colocou. Lá da mata ele viu, viu não, contaram pra ele: "Ó, o Antônio Costa pegou uma pitada de sal pra botar na panela da macaxeira. Não botou não, mas para experimentar se tu está sabendo". Aí quando ele foi chegando em casa, foi achando graça e dizendo:

- Entonces ia botando sal na macaxeira, não botou, mas fez menção de colocar, heim Antônio, como é?

- Mas rapaz, como é que fez para saber? Então já sei que tu tá aprendendo.

Após cumprida a dieta, ela chegou para ele, clara como a luz do dia. Ela disse que estava pronta para atendê-lo no que ele pedisse. Pediu que ela lhe fizesse um dos melhores curadores do mundo. Ela respondeu que ele não poderia ganhar dinheiro com aquilo.

- Minha Mãe, eu não quero ganhar dinheiro.

- Muito bem! Mas você vai ter muito trabalho. Muito trabalho!

Ele pediu que ela associasse tudo que tivesse a ver com a cura, nessa bebida.

- Não é assim que tu estás pedindo? Pois já está feito. E tudo está em tuas mãos.

E entregou para ele. Mas o Mestre sabia que não era o suficiente para ele ser. Não! Ele recebeu e aí foi se fazer. Trabalhar para ir adquirindo. Se aperfeiçoando, recebendo a cada dia os poderes que é preciso ter. Nessa fase, ele falava que ficou cerca de cinco anos
. (9)

Nestes cinco anos de provação Irineu foi assolado por diversas dúvidas e receios, todavia, começa a trabalhar espiritualmente com a ayahuasca. Ainda com os irmãos Antônio e André Costa, Irineu Serra fundou, em 1917 em Brasiléia, o Círculo de Regeneração e Fé (CRF), a direção dos trabalhos cabia a Antônio Costa, porém este centro teve curta duração (Sena Araújo, op. cit.), sendo extinto em 1921.

Durante esses cinco anos, ele começou a ajuntar um grupo. Antônio Costa tomou Daime com o Mestre durante um certo período. Eles chegaram a fundar um centro: Centro de Regeneração e Fé - CRF, em Brasiléia. Era pouca gente, mas eles chegaram a criar uma associação. Parece que, pouco depois, andaram censurando o Mestre Irineu, até mesmo o Antônio Costa, a brespeito das contribuições. O Mestre percebeu que estavam desconfiando dele. Ele se desgostou, abandonando o centro, indo para Sena Madureira e mais tarde para Rio Branco. (10)

“Os relatos sobre este período são poucos e adquirem um certo tom de mito fundador” (MacRae, op. cit.). É neste instante que Irineu Serra tem sua primeira experiência na organização de um centro de trabalhos espirituais, fator de considerável importância no desenvolvimento de suas atividades futuras. Depois do conflito com os irmãos Costa, em 1921, que Irineu Serra teria trabalhado, nos sertões do Acre, como mateiro na Comissão de Limites Brasileiro-Peruano composta por oficiais militares de ambos países entre 1924 e 1928.

A sua primeira atividade na Amazônia foi a seringa. Trabalhou em diversos seringais. Por essa época chegou uma comissão para delimitar as fronteiras entre o Brasil, Peru e Bolívia. O Mestre me falou muito dessa comissão, um grupo de pessoas sérias, dedicadas. Ele começou a trabalhar com essa comissão, chegando a conquistar uma confiança tão grande que se tornou tesoureiro. Depois voltou ao trabalho de seringa. (11)


Em 1928 ou 29 “sentou praça” na antiga Guarda Territorial como soldado, neste momento conhecera seu primeiro discípulo Germano Guilherme, um negro baixinho do Piaui, que também servia na Guarda territorial. Em 1930, conta-se que Irineu teria recebido ordens da Rainha da Floresta (Nossa Senhora da Conceição) para dar baixa na Guarda Territorial, ocupava então o posto de cabo, e iniciar sua missão como “General do Batalhão da Rainha da Floresta”. Transfere-se para Rio Branco, capital do então território do Acre, instalando-se na bairro de Vila Ivonete, a época zona rural da cidade. Ali Raimundo Irineu teria integrado-se a uma comunidade negra, logo tornando-se uma respeitada liderança.



Rio Branco: início da missão: fundamentação do Santo Daime


A cidade de Rio Branco tornava-se na década de trinta um dos pontos de destino para os excedentes populacionais não absorvidos pelo seringais. Entre 1920 a 1940 a exploração da borracha sofre um forte e considerável declínio, “vários seringais são desativados e boa parte dos seringueiros opta por se deslocar para os centros urbanos mais próximos. Os velhos agrupamentos de vizinhança, as freguesias, se esvaziam e se desestruturam. Os centros urbanos da região não conseguem dar conta das necessidades geradas com o aumento da população.”(Goulart, 2002: 318)

Raimundo Irineu chega em Rio Branco num momento de crises e conflitos, arrebanha seus primeiros discípulos entre seringueiros que abandonando as seringas dirigiram-se para a capital do território acreano. Com a falta de infra-estrutura da cidade surgiram várias colônias agrícolas, prática que na época do apogeu da exploração da borracha havia sido perseguida passava, então, a ser incentivada como um solução para os emergentes problemas sociais.

Contudo com o aumento da atividade agropecuária outras dificuldades iam nascendo, os investimentos para as colônias agrícolas, que já eram poucos, iam gradativamente diminuindo, e a própria subsistência destes indivíduos estava comprometida (Monteiro 1981). Sendo assim, algumas práticas camponesas próprias das origens deste grupos passam a ser resgatadas, a organização da doutrina de Raimundo Irineu se insere nesse contexto de afirmação e solidariedade entre migrantes nordestinos. Tradicionais instrumentos de coesão ganha novo significado sendo peças fundamentais na religião do Santo Daime: temos assim novas acepções para práticas como o multirão, o compadrio e as festas aos santos cristão (Goulart, op. cit.).

Irineu Serra começa a se destacar neste ambiente como líder. Unindo seu carisma pessoal à ciência conquistada com o uso da ayahuasca, seus dons curadores aureolam com entornos místicos sua liderança comunitária.

O começo era pouquinha gente (…) algumas famílias que moravam encostado ao padrinho Irineu. Muitos já conheciam ele. moravam ali pertinho tinham suas colônias. O padrinho Irineu também, tinha lá o roçadinho dele. Era tudo vizinho, compadre né, tinham de se ajudar. O mestre foi reunindo todo esse povo, foi ensinando a gente a se ajudar, a trabalhar junto a terra. Por que a gente tava numa situação que precisava se ajudar mesmo. O trabalho foi ficando mais organizado. Quando era época de coheita ou de derrubada, o padrinho Irineu juntava todo mundo e, cada dia, a gente ia trabalhar nas terras de um. Foi assim que começou a comunidade, a irmandade do Santo Daime (…) (12).

A organização do culto dá-se, então, pelo aprofundamento das relações materiais com Raimundo Irineu. Seu carisma e profunda devoção religiosa com que conduz sua liderança, começam a dar-lhe um ar de santidade, a designação de “padrinho” própria do universo rústico do camponês nordestino, que nesta conta tinham “beatos”, “penitentes”, “milagreiros” ou “santos”, passa a lhe ser atribuída, bem como o atributo de “mestre”, próprio da cultura vegetalista da Amazônia que assim denominava aqueles que dominavam o conhecimento das plantas e poderes espirituais da floresta.

Logo Mestre Irineu, ou o Padrinho Irineu, começa a ganhar fama como curador. Sua profunda devoção, trazida desde o berço, tornava-o profundo conhecedor de orações e rezas católicas, tornava-se, destarte, a voz da religião na ausência de representantes oficiais da Igreja. “Frequentemente os daimistas se referem ao mestre Irineu como um ‘homem santo’, e a imagem de benfeitor e protetor é, invariavelmente, associada a sua pessoa. Para muitos daimistas, o mestre chega a ser considerado um ‘pai’, que conduz seus filhos (ou afilhados) no decorrer de suas vidas. Assim ele orientava, aconselhava, determinando até alguns casamentos de membros de seu culto.

 

Aí... Até hoje. Isso foi há 30 anos atrás. Parei de beber, depois, até de fumar. É isso, segui com o Mestre. Tomei-o para padrinho, pois tudo emanava dele, tudo passava pelas mãos dele, tudo, tudo, tudo. Nosso pai espiritual! E, nesse trabalho, o meu pensamento era: "Quando eu voltar a terra, o meu primeiro contato com ele, material, será tomar a bênção de joelhos e chamá-lo de pai". No outro dia, bem cedinho, fui bater na casa dele. O Mestre estava sozinho, na sala, sentado no lugar de costume, no tamboretinho dele.

- Bom dia, Mestre!

- Bom dia, Luiz! Suba.

Fui me aproximando e já fui me ajoelhando, tomando a bênção e beijando a mão. Tomei a benção como pai mesmo. Ele disse:

- Levante! Pode se levantar.

Aí eu contei o trabalho inteiro para ele, todinho.

- Você pode ficar tomando a benção minha, tudo bem! Agora, de joelho, não! Beijar a mão, tudo bem, minha gente assim faz; agora, não me chame de papai. Grave isso no seu coração, no seu pensamento, me tenha essa consideração. Mas me chame mesmo de padrinho.

Foi quando ele me explicou a história entre padrinho e pai. Padrinho é uma palavra disfarçada, mas que quer dizer ao mesmo tempo pai. A partir daí, é meu padrinho até hoje. Papai eu chamo sem que os outros ouçam. Lá no íntimo
...(13)

Como vegetalista Irineu já realizava trabalhos de concentração utilizando a ayahuasca, logo mestre Irineu passa a organizar reuniões, seguindo o calendário, cristão com sua comunidade para ingestão do Daime (14), como agora ele chamava a ayahuasca, das tradições recuperadas na organização do culto quiçá seja esta a mais importante para a elaboração dos conteúdos da doutrina religiosa, dada a profunda ligação entre os elementos multirão, compadrio e devoção aos santos (Goulart, op. cit.).

Naquele tempo, não havia farda e esse trabalho foi de concentração. Eram três pessoas. O nosso trabalho começou com uma aula. Ajunta quatro ou cinco meninos, faz uma sala e vai ensinando e vai chegando mais crianças, chegam os ensinos cada dia que passa. O professor vai indicando como é, o aluno vai aprendendo a carta de ABC. Naquele tempo era o começo de tudo. De 1935 a 1940 é que o Mestre vai desenvolvendo e recebendo os valores da Doutrina, os hinos e a música que vem do astral. Nada é inventado. Antes não havia esse trabalho em Rio Branco, era um segredo da mata, o Mestre Irineu abriu o conhecimento para outras pessoas até chegar na situação que está hoje. (15)

O conhecimento e uso das plantas professoras sempre foi de posse exclusiva de xamãs ou vegetalista, o mestre Irineu iniciava, então, uma escola que transformava este conhecimento acessível a todos, gradativamente vai desenvolvendo seus ensinos e a pedagogia utilizada, hinos “recebidos do astral” (16).

O primeiro hinário foi em 23 de junho de 1935, na casa de Damião Marques, marido de Maria Damião. A noite toda cantamos nove hinos, dois do Germano, dois do João Pereira e cinco do Cruzeiro, pois era o que tinha. Cantávamos cada hino três vezes, depois voltava tudo de novo. Às 23 horas houve um intervalo, cantamos a Refeição diante de uma mesa completa. Depois voltamos e amanhecemos o dia, com nove hinos apenas. Lua Branca foi recebida no Peru.

O trabalho de cura surgiu em 1931, eram concentrações, às quartas-feiras. O Mestre trabalhava em benefício daquela pessoa, ou daquelas pessoas necessitadas, presente ou ausente, todo mundo concentrado. Naquela época, tinha os chamados de cura. Então, ele, silenciosamente, fazia aqueles chamados. Então, ali mesmo, dentro da concentração, ele recebia como podia ser a cura daquela pessoa. (17)


Mestre Irineu logo ganha notoriedade transcendendo as fronteiras de sua comunidade, de líder de um grupo de negros passa Irineu a receber a proteção do então governador do Acre, um incidente envolvendo uma série de perseguições sofridas pelo grupo transforma mestre Irineu em personagem central da vida religiosa de Rio Branco:

Mas o que marcou mesmo, ou melhor, oficializou o cidadão negro Raimundo Irineu Serra, "Mestre Irineu", conhecedor e senhor de uma nova forma de congregação fraternal do ser humano através de um ritual balizado pela ingestão de bebida extraída de plantas silvícolas, foi uma violência sofrida: motivos religiosos, pseudo-éticos ou pseudo-morais, levaram Mestre Irineu e sua gente a serem denunciados como useiros de práticas insensatas e até diabólicas. Isso fez com que as autoridades de então interviessem na comunidade da "oasca". Foi acionado o Tenente Costa – com fama de crueldade e frieza – da Polícia Militar, para cercar, invadir e destruir ou desativar aquele culto que estaria a incomodar e pôr em risco as convicções sócio-religiosas então dominantes. Mestre Irineu e seus seguidores ofereceram resistência, obrigando as autoridades ao diálogo e à negociação. Do que parecia sair uma guerra resultou o entendimento através do comandante da corporação, Manoel Fontenele de Castro, e do governador, o major do Exército Guiomard dos Santos, interventor de então do Território, que autorizara o cerco. De potencial inimigo passou a amigo, freqüentador e protetor do Mestre Irineu. Mestre Irineu passou então a ser conhecido por todos na capital do Território Federal do Acre, Rio Branco, como chefe de uma seita cujos mistérios estão aí para serem decifrados pelos estudiosos modernos. Com o passar do tempo, o núcleo cresceu, agregaram-se ao Mestre alguns seguidores que hoje são líderes independentes de grupos autônomos, mas que adotam os mesmos princípios ritualísticos. (18)

Na década de 40 a comunidade muda-se para outra localidade na zonal rural de Rio Branco, área conseguida com as graças do governador de então. Ao aproximar-se das autoridades mais provas de carisma demonstrava o mestre Irineu, a humildade com que ele portava-se tratando da mesma maneira negros pobres e políticos importantes, reforçava sua posição de líder e cada vez mais o adornava como santo:

Mais tarde, na década de quarenta, o Mestre se mudou para a Colônia Custódio Freire, também localizada na zona rural de Rio Branco, que lhe foi doada pelo então governador do Acre, o Sr. Guiomard Santos. Essa colônia foi dividida pelo Mestre Irineu entre os freqüentadores do Centro.

Guiomard Santos vinha aqui, passava dias em casa conversando com ele. Uma vez ele chegou e o velho estava no roçado. Aí ele mandou chamar. Disse:

- Ora, Irineu, eu venho aqui passar o dia contigo e tu tá no roçado. Acaba com isso. Tu não é para trabalhar assim.

O velho respondeu:

- Eu tenho que trabalhar, porque eu não tenho quem me dê nada.

O Guiomard então disse:

- Eu vou te aposentar como veterano da Revolução Acreana, tu queres?

Mas ele respondeu:

- Não, eu não quero, porque não sei mentir.

Ele gostava mesmo era dessa vida.

O Santo Daime organiza-se como doutrina assimilando elementos do catolicismo popular, tradições indígenas, esoterismo e espiritismo. Para além do uso da ayahuasca como sacramento do culto, a personalidade do mestre Irineu é o que se pode entender como o principal elo de coesão entre seus adeptos, após sua morte disputas se deram pela liderança da comunidade, e algumas dissidências ocorreram, contudo a figura do mestre Irineu povoa, ao lado de Jesus e Maria, entre as figuras mais importantes da cosmologia daimista.

A nossa capacidade por mais que se queira não aglutina principalmente assim no momento toda a história do Mestre – mas pelo menos um pouco daquilo de que tivemos conhecimento, que vivemos, experimentamos como testemunhas vivas ainda que somos, por termos convivido com o nosso Mestre Raimundo Irineu Serra por nove anos. E dentro daquela convivência até hoje eu só tenho uma coisa a dizer: é que realmente Raimundo Irineu Serra, mais conhecido como Mestre Irineu, não faz mal, ou São Irineu, não faz mal quem achar que ele é dessa natureza (no entanto o seu nome recebido na pia batismal consta como Raimundo Irineu Serra), trouxe o seu valor desde o seu nascimento. E aí meus irmãos exponhamos, até porque é uma coisa de que a gente gosta, conversar alguma coisa acerca do nosso Mestre.

Então, sabemos que ele veio a este mundo, viveu nessa vida que vivemos, teve também a sua trajetória terrena, aqui por este mundo, chegando a quase setenta e nove anos de idade. Setenta e oito completos, não se completaram os setenta e nove. E podemos relacionar o tempo do Mestre Irineu, o que veio a acontecer com ele, ao tempo de Jesus, quando necessariamente havia que ter um lugarzinho qualquer para que a Virgem Maria pudesse dar à luz ao Senhor Jesus. E as condições ali encontradas foram que ela pudesse dar à luz ao nosso salvador, o Senhor Jesus, num curral, assistido pelos animais irracionais. O povo chama de curral, ou estábulo, depois foi que, com o acontecimento, com a descoberta daquela coisa majestosa que aconteceu ali, é que veio o batizado de lapinha, de manjedoura, de presépio etc. E ali realmente se deu aquele grande mistério, mas extremamente dentro daquela humildade. Nascido entre os pobres, entre os peregrinos, entre os mais necessitados, porque mais tarde chegou a dizer que não veio pelos sãos e sim pelos doentes, e foi assim que Jesus Cristo veio ao mundo, foi pelos mais oprimidos.

Com o Mestre Irineu não aconteceu diferente, noutro aspecto sim, mas veio também das extremidades da humildade, nasceu em família pobre, em terra pobre, num pequenino município lá do Maranhão, São Vicente de Férrer, na época atrasadíssimo. Era uma zona rural muito atrasada. Consta que ele foi descendente dos escravos, seus pais foram escravos, o pai Sancho e a mãe Joana. E justamente quando uma mulher vai ganhar neném a gente costuma dizer a expressão 'deu à luz', porque na realidade é uma luz mesmo, porque Joana ali deu uma luz ao mundo na pessoa do Mestre Irineu desde o seu nascimento. Daí ele revelava um pouco da vivência dele como criança, como adolescente, chegando a sua maioridade. Ele também revelava um pouco o que ele vivia naquele lugarzinho paupérrimo, pobrezinho, todo mundo era pobre. A fonte de riqueza não dava uma estabilidade melhor, porque viveu de coco de babaçu, pegando coco de babaçu para vender, aquela ninharia, aquela coisinha ... E assim aquele povo vivia. (19)

 

Notas:

(1) Sena Araújo deduz que houve dois tipos de correrias: “aquela que tinha como finalidade ‘limpar’ a área para os seringalistas, isto é, matar e/ou expulsar os índios de suas áreas, e a que visava à escravização nativa”.

(2) A versão tradicional, citada pelo próprio Raimundo Irineu Serra, é de que ele teria nascido em 1892 (MacRae, 1992: 61), porém o registro de batismo data o nascimento em 1890 (Maia Neto, 2003: 108).

(3) Ayahuasca é o nome quíchua para uma bebida amazônica de poderes psicoativos prepara pela decocção do cipó Jagube (Banisteriopsis caapi) e da folha Rainha (Psychotria viridis), também é conhecido por yagé, caapi, mariri, daime, etc.

(4) “Em muitas partes do mundo, onde predominam concepções mágicas a respeito de saúde e doença, as questões que se colocam a respeito quando alguém adoece são diferentes das formuladas pela medicina ocidental. Enquanto esta procura entender como a doença ocorre, se desenvolve e se transmite, entre os adeptos do pensamento mágico, o que interessa é saber por que alguém foi acometido por determinado mal.” (MacRae, 1992: 47)

(5) Depoimento de Francisco Granjeiro Filho , genro de Antônio Gomes, um dos primeiros discípulos de Raimundo Irineu.

(6) João Rodrigues Facundes, presidente do CRF.

(7) Luís Mendes do Nascimento

(8) João Rodrigues Facundes

(9) Luís Mendes do Nascimento

(10) Luís Mendes do Nascimento

(11) Depoimento de Luís Mendes do Nascimento, mestre-conselheiro do CEFLI

(12) Depoimento extraído de Goulart, op. cit.

(13) Luís Mendes

(14) dos rogativos dai-me amor, dai-me luz, dai-me força.

(15) José Francisco das Neves Júnior, conselheiro do CICLU-Alto Santo e segundo discípulo do mestre Irineu.

(16) Realidade espiritual

(17) Percília Matos da Silva, zeladora da obra do mestre Irineu.

(18) Mário Maia, ex-senador do Acre

(19) Luís Mendes do Nascimento

 

CEMIM, Arneide Bandeira. Os Rituais do Santo Daime: “sistemas de montagens simbólicas” in LABATE, Beatriz Caiuby, ARAÚJO, Wladimyr Sena (org.). O Uso Ritual da Ayahuasca. Mercado das Letras: São Paulo, 2002.

ELIADE, Mircea. O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase. Martins Fontes. São Paulo. 1998.

FRANCO, Mariana Ciavatta Pantoja. Breves revelações sobre a ayahuasca. O uso do chá entre os seringueiros do Alto Juruá. in LABATE, Beatriz Caiuby, ARAÚJO, Wladimyr Sena (org.). O Uso Ritual da Ayahuasca. Mercado das Letras: São Paulo, 2002.

GOULART, Sandra Lúcia. O Contexto do culto do Santo Daime: formação da comunidade e do calendário ritual. in LABATE, Beatriz Caiuby, ARAÚJO, Wladimyr Sena (org.). O Uso Ritual da Ayahuasca. Mercado das Letras: São Paulo, 2002

GROISMAN, Alberto. O Santo Daime: Notas Sobre a “Luz Xamânica” da Rainha da Floresta . In: Xamanismo no Brasil: Novas Perspectivas. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1996.

LABATE, Beatriz Caiuby, ARAÚJO, Wladimyr Sena (org.). O Uso Ritual da Ayahuasca. Mercado das Letras: São Paulo, 2002.

MACRAE, Edward. Guiado pela Lua. Xamanismo e uso Ritual da Ayahuasca na Cultodo Santo Daime. Editora Brasiliense: São Paulo, 1992.

MAIA NETO, Florestan J. Contos da Lua Branca.Fundação Elias Mansour: Rio Branco, 2003.

SILVA, Clodomir Monteiro. O Uso ritual da ayahuasca e o reencontro de duas tradições. A miração e a incorporação no culto do Santo Daime. in LABATE, Beatriz Caiuby, ARAÚJO, Wladimyr Sena (org.). O Uso Ritual da Ayahuasca. Mercado das Letras: São Paulo, 2002.

ARAÚJO, Wladimir Sena. Navegando nas Ondas do Daime. História e cosmologia no ritual da Barquinha. Editora da Unicamp: Campinas-SP, 1999.


Publicado em: 08/08/2008

Autor: Armênio Celso de Araújo

Fonte: Revista Arca da União



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